sexta-feira, agosto 24, 2012

O rock não tem idade neste musical

Alec Baldwin e Russel Brand administram o Bourbon Room no musical 'Rock of Ages'<br /><b>Crédito: </b> warner bros. pictures / divulgação cp
Alec Baldwin e Russel Brand administram o Bourbon Room no musical 'Rock of Ages'
Crédito: Warner Bros. Pictures / Divulgação
Estreia hoje nos cinemas "Rock of Ages: O Filme", um musical para provar que o rock não tem idade e que a chama dele está acesa, mesmo que o pop, o rap, o axé e o sertanejo universitário tenham invadido o mercado há muito tempo. Estrelado por Tom Cruise, Alec Baldwin, Russel Brand, Paul Giamatti e Catherine Zeta-Jones, essa adaptação para as telas do sucesso da Broadway, com direção de Adam Shankman, parte de um enredo linear e trivial (base de boa parte dos musicais) sobre a garota interiorana de Tulsa, Sherrie (Julianne Hough) e de um garoto de Los Angeles, Drew (Diego Boneta), que se conhecem no Sunset Strip, quando roubam a mala dela com discos de vinil de uma vida inteira.

Os dois buscam o sonho musical em Hollywood e nada melhor do que encontrá-lo no Bourbon Room, local onde trabalham como garçons, administrado por um cinquentão, Dennis Dupree (Alec Baldwin), que ainda crê no rock and roll em pleno ano de 1987, auxiliado pelo fiel escudeiro Lonny (Russel Brand). O Bourbon vai sediar o último show da banda Arsenal, liderada pelo mito do rock Stacee Jaxx (inspirado no problemático Axl Rose), que vai se lançar em carreira solo.

O clima de romance rock e de alcançar o sonho entre Sherrie e Drew ganha tons de êxtase e bater de pezinhos com os clássicos dos anos 80, interpretados pelo próprios atores/cantores, como "Rock of Ages", do Def Leppard; "Paradise City", Guns N'' Roses, "Wanter Dead or Alive", Bon Jovi; "I Love Rock and Roll", Joan Jett, e "I Wanna Rock", do Twisted Sister, além da clássica "Don''t Stop Believin'', do Journey.

Uma elegia ao rock. Imperdível.

Texto publicado originalmente no jornal Correio do Povo. 

sexta-feira, agosto 17, 2012

As voltas que os mundos podem dar


Os filmes coral, no qual diversos personagens aparecem e se conectam em algum ponto do filme são na maioria das vezes daqueles que nos motivam a ir ao cinema e pensar sobre o fato de uma palavra ou ação em um lugar poder desencadear uma tragédia em outra cidade ou país. Robert Altman ("Short Cuts"), Paul Thomas Anderson ("Magnólia") e "Alejandro Gonzáles Iñàrritu ("Babel") são destes exemplos bem-sucedidos. No terceiro grande passo da sua carreira hollywoodiana, Fernando Meirelles ("Ensaio Sobre a Cegueira" e "Jardineiro Fiel") resolveu encarar a estrutura coral e contar nove histórias que se entrelaçam, com personagens que se conectam ou se deslocam por cidades como Viena, Paris, Londres, Bratislava, Denver e Phoenix.

Foto: Paris Filmes / Divulgação

A estrutura de construção coletiva da história no roteiro de Peter Morgan ("A Rainha"), com cortes para pequenas histórias parte de duas irmãs eslovacas, uma que irá se prostituir e a outra que irá se apaixonar pelo guarda-costas de mafioso russo. A conexão com esta história será o primeiro cliente da prostituta eslovaca, Mirka, em Viena, que seria Michael Daly (Jude Law), mas uma chantagem de dois vendedores (Moritz Bleibtreu e Peter Morgan) para fechar um contrato acaba deslocando a história para a culpa de uma possível traição à esposa Rose (Rachel Weisz), editora de revista de moda. 

Em Londres, vira trama de dupla traição, pois Rose trai Michael com o fotógrafo Rui (o brasileiro Juliano Cazarré), descoberto pela namorada dele, Laura (a brasileira Maria Flor). Ao tentar retornar para o Brasil, Laura conhece no avião o pai alcóolatra (Anthony Hopkins) que busca a filha desaparecida. Após nevasca em Denver, Laura conhece um estuprador recém-colocado em liberdade (Ben Foster). São tantos os personagens e ações interconectadas desta "vida em trânsito", como definiu Morgan, que ficamos estarrecidos, buscando o sentido deste mundo globalizado, multicultural e ao mesmo tempo tão solitário.

(Texto publicado originalmente no Correio do Povo)

segunda-feira, agosto 13, 2012

Intocável que nos toca




Nos milhares de filmes aos quais já assisti, sempre pode haver aqueles casos raros, não incomuns, de obras que tangenciem de alguma forma a realidade, mas que sejam construídas de um jeito que nos faça rir e chorar ao mesmo tempo, acreditar na vida e ter a consciência das nossas limitações e da finitude neste intervalo entre nascer e morrer que é a vida. Deixando os preâmbulos realistas ou niilistas, queria começar dizendo que Intocáveis, filme dirigido por Eric Toledano e Olivier Nakache, que recebeu nove prêmios César, é outro destes filmes que nos arrebatam do começo ao fim. Os irmãos Weinstein, produtores garimpeiros de jóias raras tanto do cinema americano quanto do europeu ou asiático, chegam a apresentar cinco razões para se ver o filme, endereçado principalmente aos norte-americanos. Vale lembrar que esta tragicomédia está sendo até agora a maior bilheteria de um filme estrangeiro em 2012 nos Estados Unidos.

Desde que temos a sequencia inicial do filme, já é possível acompanhar o pensamento dos Weinstein o filme leva às lágrimas de alegria. O jovem negro, de origem senegalesa, morador dos arredores de Paris, Driss (Omar Sy), se inscreve para cuidar de um aristocrata francês tetraplégico, Philippe (François Cluzet), mas o seu único objetivo é conseguir uma nova assinatura de recusa para acionar novamente o seguro desemprego. A franqueza, o humor, o jeito truculento e principalmente a não necessidade de compaixão, de pena que Driss demonstram acabam cativando Philippe, que o contrata. Vale lembrar que o filme é baseado na história real contada pelo milionário Philippe Pozzo di Borgo, “O Segundo Suspiro. Os dois ainda vivem e tem uma forte relação de amizade.

A intensidade desta relação, os choques culturais evidentes e a gratidão que um irá sentir pelo outro por esta convivência passam a cativar o espectador. O bom humor de Driss contagia gradativamente as pessoas que cuidam de Philippe na mansão da família em Paris. Enquanto tenta entender um universo permeado por quadros de Salvador Dalí e Goya, por músicas de Vivaldi, Berlioz e Bach, Driss acaba cuidando de Philippe nos cuidados com o seu corpo, mas principalmente no destravar emocional. Enquanto tenta resolver pequenos conflitos na sua família no subúrbio, Driss também tenta mostrar ao novo amigo rico que as piadas sobre deficientes podem aliviar o ambiente, que o humor pode ser redentor e que um amor verdadeiro, palpável, pode ser tão bom quanto aquele rebuscado e epistolar com uma desconhecida.

A descoberta de como é viver sem movimentos do pescoço para baixo também causam um choque em Driss, que inicialmente se nega a limpar o novo patrão e amigo, mas que acaba sendo mais que um acompanhante e sim alguém que pode mostrar um mundo cheio de verdades, de movimento, de intensidade, proporcionar voos a Philippe, que perdeu os movimentos justamente por causa de um voo de parapente. Mesmo rindo de obras de arte contemporânea e ridicularizando o preço excessivo de alguns respingos numa tela ou criticando as quatro horas de uma ópera, após rir no início de uma ária, Driss é perspicaz e quer aprender a pintar, quer dar os seus respingos na vida e na arte.

Um filme realmente tocante, que nos dá uma alegria imensa, com a paradoxalidade de uma relação de duas pessoas tão distantes, mas que também nos faz chorar bastante pelos pequenos e grandes dramas do jovem pobre e do tetraplégico rico, aprender que enquanto houver vida, há esperança. Este filme é esperançoso, é intocável no seu toque sutil no subjetivo de cada um. Um dos melhores filmes franceses dos últimos cinco anos. Corram aos cinemas quando estrear. Não percam.



Nas curvas da estrada da vida


Uma frase no para-choque traseiro de um caminhão serve para ilustrar o quão dramática pode ser a vida dos personagens de “À Beira do Caminho”, filme dirigido por Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco”), inspirado em temas de músicas do rei Roberto Carlos. A frase é: “Espere pelo melhor, prepare-se para o pior, aceite o que vier”. Silveira é um confesso cineasta do emocional, de conduzir o público ao drama, ao difícil enredar dos laços afetivos. 

Nesse filme, em que o argumento de Lea Penteado é todo costurado com músicas de Roberto Carlos, o silêncio e a emoção são os primeiros a aflorar, apesar da dureza apresentada no paradoxo do personagem principal, o caminhoneiro João (o sempre excelente João Miguel), que tem um drama pessoal. Ele sente-se culpado por um acidente que mudou o rumo de sua vida e, ao mesmo tempo, a torna amarga e sem laços afetivos, vendo na perspectiva solitária da estrada a sua fuga perfeita. João deixa para trás sua família, sua cidade, sua história. O silêncio é quebrado pelo som de um único CD com canções de Roberto Carlos, que chamuscam lapsos de suas lembranças.



A virada da história é quando João depara com um caroneiro, o menino Duda (Vinicius Nascimento), determinado a encontrar o pai, pois a mãe morreu, mas que acaba ajudando João a se confrontar com o passado. Duda acredita, enquanto João é a imagem da desesperança. O contato com o menino faz João amolecer o coração e se reencontrar com pessoas do passado, como a ex-namorada Rosa (Dira Paes). João decide ajudar o seu novo amigo a encontrar o pai (Angelo Antonio), que está em São Paulo, para onde ele deve levar um carregamento de melões.

O primor da trilha com músicas de Roberto Carlos — como “A Distância”, que inicia o filme, e “O Portão”, quando ele está voltando para a casa da mãe (Denise Weinberg), onde perdeu Helena (Ludmila Rosa) e deixou uma filha —, concatenada com a fotografia das longas estradas do Nordeste e Sudeste brasileiros, na qual o caminhão, o poente e o silêncio dialogam, compõem a dose exata a preparar o espectador para a emoção vindoura. Méritos mil ao roteiro redondo de Patrícia Andrade, à trilha de Berna Ceppas e à fotografia de Lula Carvalho. 

(Texto publicado originalmente no jornal Correio do Povo)

Tudo sobre minha mãe à italiana


A relação edipiana do professor de Literatura em Milão Bruno Michelucci (Valerio Mastrandea) com a belíssima mãe Anna (Micaela Ramazotti), a partir da música “La Prima Cosa Bella”, que a mãe cantava para ele e a irmã Valeria (Claudia Pandolfi) quando crianças, é o mote deste drama, com roteiro e direção do italiano Paolo Virzi, em cartaz na Capital. As reminiscências de Bruno sobre os anos 70, dourados e sofridos, partem da vida atual depressiva, longe da família e do passado, mas a doença terminal da mãe (Stefania Sandrelli) faz com que se choque com o passado pela visita da irmã Valeria à sua universidade, pedindo que ele visite a mãe.

A produção de 2010, escolhida para representar a Itália no Oscar 2011, se inicia quando Bruno (Giacomo Bibbiani), ainda criança, em 1971, presencia a vitória da mãe no concurso Miss Mamma, no verão, em uma praia da pequena Livorno. Com a popularidade, a mãe passou a receber mais assédio e a despertar os ciúmes do marido, Mario (Sergio Abelli). Ela é colocada para fora de casa por Mario e, para sustentar os filhos, acaba virando amante dos seus chefes.

Apesar da doença terminal de Anna, Bruno ainda tem tempo de conviver com a mãe, sentir esta perda iminente e resolver a fixação pela mãe. Antes de morrer, Anna quer casar-se com o zelador do prédio, que guarda acervo de fotos de Anna e dos filhos. Nos avanços e recuos do tempo, alguns segredos e a relação materno-filial intensa descrita por Bruno: “Do amor de uma mãe como a nossa, feliz ou infelizmente, não há escapatória”. Tudo ganha corpo com a trilha composta por músicas ao melhor estilo festival de San Remo, como a faixa-título com Nicola Di Bari; “L’Eternitá” e até “Born to be Alive”, de Patrick Hernandez. 

(Texto publicado originalmente no Correio do Povo)