sábado, abril 14, 2007

Inferno seria perder esta peça



O post é bem rápido. É para convidar meus leitores a assistirem ao espetáculo Entre Quatro Paredes, texto do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre. A montagem da Cia 4 Produções trabalha a pungência do texto com os elementos da estética do confinamento. Três pessoas são conduzidas a um local onde não há estacas, grelhas, nem piscar de olhos, isto é, não é o inferno no seu estereótipo. Nas suas consciências, porém, o que foi feito aos que ficaram na terra dos vivos faz toda a diferença. Aos poucos o jornalista, a socialite e a funcionária pública acabam se dando conta do que os levou até ali e começa a fazer a sua expiação. O inferno são os Outros, diria Sartre. Eu diria que o inferno é perder a excelente atuação de Marcelo Aquino como Joseph Garcin, com um envolvimento corporal e vocal, demonstrando o legítimo tormento de um homem que torturou alguém de alguma forma, mesmo que não fisicamente. Inferno seria perder Carolina Garcia interpretar Inês Serrano, a lésbica que destila sua ironia e os seus amores aos dois convivas. Inferno é deixar de travar contato com as sutilezas da Estelle Rigault de Daniela Aquino. A bela socialite encanta e tira as máscaras da insegurança e do seu crime com leveza. O Criado vivido por Antônio Carlos Falcão tem austeridade, digno de um ator que faz comédia e drama com a mesma competência. Méritos para Sandra Dani, a maestrina que orientou a todos e também para a trilha contundente de Marcelo Delacroix. Louvores maiores ainda ao esteta Élcio Rossini que com sua estrutura de acrílico cria uma Caixa de Pandora, uma Arena, um Coliseu, algo cheio de surpresas para os leões da platéia devorarem. A concepção de luz de Antônio Tubino e Liliane Vieira trata o espectador como participante deste inferno fazendo-o se refletir no acrílico e tentar buscar os pecados dentro de si. Imperdível este vencedor de três troféus Açorianos.

sábado, abril 07, 2007

Sam Shepard no Renascença



Amigos leitores


Uso estas mal-traçadas linhas para convidá-los a assistir uma peça de grande qualidade no Teatro Renascença, localizado na rua Erico Verissimo, 307, em Porto Alegre. Mamãe foi pro Alaska está em cartaz de sexta a domingo, sempre às 21h, até 22 de abril.

O trabalho dirigido por Ramiro Silveira propõe uma leitura criativa e divertida para o denso texto True West, de Sam Shepard, que conta a história do reencontro de dois irmãos Lee e Austin, vividos por Evandro Soldatelli e Carlos Ramiro Ferstenseifer, após cinco anos na casa da Mãe (Arlete Cunha) ,que foi para o Alaska. Os dois acertam as contas na disputa pela atenção pelas suas histórias cinematográficos de um produtor de Hollywood, resolvem as diferenças, redescobrem a identidade e a fraternidade, numa montagem que propõe um cenário cheio de alternativas de Zoé Degani: um telão-ciclorama onde bonecos de playmobil se perseguem no deserto, flores, torradeiras, mesas que viram automóveis, triciclos que trazem um andarilho violeiro. Além de uma luz linda que valoriza os matizes básicos de preto, branco e cinza, feita pela minha esposa (linda!!!), Nara Maia. Enfim, uma beleza de espetáculo que venceu dois prêmios Sated/RS, teve cinco indicações ao Açorianos e lotou teatros no Festival de Curitiba. As fotos aí de cima são do excelente fotógrafo, colega de trabalho e amigo Luciano Bergamaschi. Confiram!!!!