Líder do Jefferson
Starship, Paul Kantner, fala sobre os shows no Brasil a partir desta quinta e sobre as quase cinco
décadas de estrada e novos projetos pessoais e da banda
O psicodelismo e o
clima dos festivais do final dos anos 1960 ainda não passaram para este avião
loucamente descontrolado que é o Jefferson Starship (originalmente Jefferson
Airplane, quando fundado em 1965). O líder de uma das bandas mais cultuadas da
geração Woodstock e a maior banda do psicodelismo que marcou os anos 60, Paul
Kantner, 72 anos, do Jefferson Starship, ao responder sobre a representação da música da
banda de San Francisco, California (EUA) nos dias de hoje enfatiza que “a nossa
música representa a consciência alterada, uma elevação saboreando a luz que brilha através da música e das poesias, próxima de uma natureza religiosa; e também desta energia crescente de San Francisco (cidade californiana natal da banda).
O Jefferson Starship se apresenta
pela primeira vez no Brasil, a partir desta quinta, dia 8, quando toca no
Manifesto Bar, em São Paulo, a partir das 21h. As apresentações seguem na sexta
em São José dos Campos. Em Porto Alegre, a banda tocaria domingo, às 20h, no
Teatro do CIEE (Dom Pedro II, 861), mas a baixa procura de ingressos obrigou os
produtores a cancelar a apresentação. A banda toca ainda na próxima semana em
Florianópolis (12 de agosto), Rio de Janeiro (14), Salvador (15) e Belo Horizonte (18). Sob
a liderança de seu fundador Paul Kantner, o som do grupo hoje se assemelha
muito a sua origem, com uma sonoridade que mistura música folclórica,
psicodelia e muito rock, diferente da tendência que o grupo seguiu nos anos 80.
O grupo Jefferson
Airplane surgiu no meio oeste americano, em 1965 e o sucesso estrondoso de
"White Rabbit" acabou associando o Airplane a drogas. O Airplane foi
a única banda a participar dos três maiores festivais da época – Monterrey,
Woodstock e Altamont. Nos anos 70, após discos como Surrealistic Pillow e Crown
of Creation, a banda se desintegrou e em 1973, Kantner mais Grace Slick, Marty
Balin e David Freiberg, membros do Airplane, mais o baterista John Barbata, o
violinista Papa John Creach, Pete Sears e o jovem guitarrista fenômeno Graig
Chaquico, juntaram-se no Jefferson Starship, lançando o primeiro "Dragon
Fly".
Depois, vieram
grandes discos como "Red Octopus" (1975), que recebeu o Disco de
Platina, além de "Spitfire" (1976) e "Earth" (1978). A
banda gravou até 1984 com "Nuclear Furniture". Depois, Grace Slick
seguiu sob o nome de Starship até 1992, quando Katner formou a Jefferson
Starship, que com o passar dos anos voltou a ser só Jefferson Starship. Em atividade desde então a banda é formada
atualmente pelos membros originais Paul Kantner (guitarra), Richard Newman
(bateria) e David Freiberg (guitarra e vocal), além de Cathy Richardson
(vocal), Jude Gold (baixo) e Chris Smith (teclados). Mais sobre a banda no www.jeffersonstarshipsf.com.
Em entrevista a este
blogueiro feita inicialmente para o Correio do Povo, Paul Kantner fala do que
representa a música da banda atualmente, do repertório, dos projetos e da ferocidade
por conhecer o público e a música brasileira.
Textostelona - O que
representa a música do Jefferson Starship no contexto atual?
Paul Kantner - A
música representa aventura, exploração, alegria, paixão e imaginação. A nossa
música representa uma consciência alterada, uma elevação saboreando a luz que
brilha através da música e das poesias, próxima de uma natureza religiosa; e também desta energia crescente de San Francisco, a cidade no limite da civilização
ocidental, que aponta muito mais do que um caminho: é a fronteira do que você
quiser ser. Eu gosto de chamar San Francisco, das 49 milhas quadradas, que são totalmente
rodeados pela realidade. Eu estou continuamente tomado pelo que acontece aqui
em nossa cidade, seja na área intelectual, emocional, e com o mistério da
música e por que e como isso nos afeta e a maneira como vamos fazer as coisas.
É o rock and roll caos.
Textostelona - Como
será o repertório deste show no Brasil?
Kantner - Tocamos
músicas do Jefferson Airplane, do Jefferson Starship, músicas do próprio
repertório da vocalista Cathy Richardson, canções do Quicksilver Messenger
Service pelo David (Freiberg). Como sempre, eu sou particularmente apaixonado
pela ficção científica na nossa música, entre outras coisas. Faremos canções como "Connection", " The Ballad of You
and Me and Pooneil", "Crown of Creation", "She Has Funny
Cars", "Lawman", "Greasy Heart",
"Hyperdrive", "When the Earth Moves Again",
"Volunteers","Miracles", "Count of Me",
"Find Your Way Back", "Jane", "Fast Buck
Freddie", "Fresh Air" e "Pride of Man" do Quicksilver
Messenger Service e muito mais.
Textostelona - Quais as
principais mudanças da banda nestas quase cinco décadas, desde o início com o
Airplane e agora com o Jefferson Starship?
Kantner - Estamos
continuamente no modo da alegoria da Caverna de Platão, em que somos constantemente
expostos ao novo e a emoções repletas de luz; um alternativo universo quântico,
por assim dizer.
Textostelona - O que podemos
falar dos vocais de Cathy Richardson?
Kantner - Cathy é uma
extraordinária e cuja performance como cantora cresce a cada dia. Ela traz um
nível excitante e emocionante de performance para a banda. Para mim ela é
sempre uma verdadeira aventura.
Textostelona - Existe uma
música favorita da banda ou que resuma o universo do Jefferson Starship?
Kantner - É como
perguntar a um pai qual é o seu filho favorito. Não computa na realidade.
Canções diferentes em noites diferentes criam novas e inesperadas dimensões,
definitivamente surpreendem a mim mesmo, tempo após tempo.
Textostelona - O que vocês
sabem sobre o Brasil e a música brasileira?
Kantner - Nada o
suficiente. Tenho a intenção de explorar este país e seu povo e também a música
brasileira com uma ferocidade inigualável.
Textostelona - Quais os futuros
projetos da banda e de Paul Kantner?
Kantner - Estou
trabalhando em vários projetos. O primeiro é uma música sobre Maria Madalena,
uma de minhas mulheres favoritas, enquanto ela viaja pela antiga Cartago,
durante sua viagens desde a "Terra Santa" e para a Gália. Trabalho na
canção, "Pooneil Goes to Mars", de ficção científica que explora o
movimento "Ocupa" e onde eu gostaria de começar a ocupar. Vou tirar
minhas inspirações particularmente de C.S. Lewis, algumas ideias de
"Perelandra" e "Out of the Silent Planet". Também estou
trabalhando em coleção de canções sobre a guerra civil (de Steven Foster
"The Battle Hymn of the Republic"). Trabalhamos num novo álbum de
rock do Jefferson Starship e novo álbum de folk da banda, mais à maneira do
"Jefferson´s Tree of Liberty", que deve ser constantemente atualizado
com o sangue dos patriotas e dos tiranos. Estou escrevendo dois livros. Um é
uma coleção de histórias da nossa história, chamado "Histórias da
nave-mãe". Outro é um romance de ficção científica, incluindo uma música,
chamada "Ice Age".
Texto e entrevista: Luiz Gonzaga Lopes
Crédito das fotos: Michael Gaiman / Divulgação