terça-feira, setembro 15, 2009

Fadada ao Universal


A seguir publico na íntegra uma entrevista com a cantora portuguesa Mísia que se apresenta no 16º Porto Alegre, na quarta-feira, 16 de setembro, às 21h, no Theatro Sâo Pedro. A entrevista será publicada parcialmente no Correio do Povo. Não há mais ingressos para o espetáculo. O crédito da foto é Divulgação/Poa em Cena


1 - O que você pode nos dizer do show Ruas? O disco duplo é extremamente universal, pois apresenta a música portuguesa (Lisboarium) e investiga o fado que há cada canção universal em Tourists. O show nos remete a este clima "fados em todos os gêneros" e "canções universais com alma portuguesa"?
-O FADO é uma musica mas antes disso ja era uma palavra que significa Destino, Fatalidade.
Em Lisboarium sonha-se uma Lisboa desde longe e ouvem-se fados, Morna e Marchas de Lisboa.
Em Tourists ouvem-se temas de repertórios de artistas que tiveram uma relação tragica com o Destino( Ian Curtis, Dalida, Luigi Tenco, etc) e géneros musicais ( Flamenco, Enka Japonesa, Ranchera, Cançao Napolitana)que cantam noutras línguas de outras culturas, as mesmas emoçoes e sentimentos que canto no Fado. Neste sentido nao me mexo nem um milimetro, estou sempre no mesmo ponto.



2 - Por que decidiste cantar em tantas línguas? Isto revela a importância de extrair a musicalidade de cada língua? Existe projeto de um disco novo e show sem cantar em língua portuguesa?
Acho que cada língua tem uma maneira de sentir a vida e tem uma musica propria das suas gentes. Sempre que posso, evito traducçoes. Sim ha um projecto sobre Chopin para o ano 2010 (Bicentenário do seu nascimento)que penso que sera cantado todo em polaco e francês. Mas ainda esta em embriao.
3 - E a parceria com Adriana Calcanhoto, onde surgiu a ideia deste encontro tão produtivo e como serão as participações dela em seu show e sua no show dela?
Adriana e eu já nos conhecemos há alguns anos em Lisboa onde eu cantei para ela numa casa de Fados. Depois ela foi a minha convidada no concerto do Palau de la Musica de Barcelona, no Festival Unicas, no ano 2007. Sou uma grande admiradora do seu trabalho, cheio de talento e sensibilidade. Seguramente faremos uma colaboraçao cantando alguma musica do repertório uma da outra. Tudo será decidido na energia do momento do nosso encontro em Porto Alegre.
4 - Alguns lhe consideram como uma das principais responsáveis pelo caminho da renovação da música portuguesa. Você concorda com isso e qual a sua proposta para a renovação da música portuguesa?
Nao falarei de mim propria mas o que dizem os livros que agora se publicam em Portugal sobre o Fado é que o que se chama « Novo Fado » começou com o meu primeiro disco em 1991, quando o Fado nao estava na moda nem era parte do fenômeno da World Music. Estou entre Amalia (Rodrigues), que colocou o Fado em quase todo o Mundo num nível insuperavel , e a nova geração. O fado que eu cantei e canto (tendo como principal instrumento a palavra dos poetas que escrevem especialmente para o meu trabalho) nunca foi a resposta a uma demanda da industria discografica ou cultural. Nao sabia se haveria um publico para o meu Fado quando comecei.
Canto o Fado para comunicar com o Mundo e gosto de através dele dialogar com outras disciplinas artisticas de outros paises, com outros artistas, desde Bill T.Jones a Fanny Ardant ou Maria de Medeiros. Desde Patrice Leconte a Maria Joao Pires. O meu fado que respeita os profissionais das casas de fado de Lisboa, tem de ser universal , pois assim eu sinto o mundo. É uma simples linguagen para falar da vida e ser compreendida em Tokyo, em Nova York , em Porto Alegre etc. Cantar o fado é um meio , um instrumento cultural , nao é um objectivo. Nao procuro ter uma voz limpa ou perfeita Gosto de cantar como Maria Madalena, nao como a Virgem Maria …


5 - Para que caminho deve apontar a tua música no próximo registro em disco?
Nao faço a mínima ideia ainda ( risos) De momento estou metida em varios projectos muito diferentes entre si ( Chopin,Musica Barroca, participaçao num filme de John Turturro sobre musica napolitana, um documental que vou fazer sobre o fado no femenino etc). Nao sei se os novos concertos serão gravados, nao é essa a minha preocupação. Sou sobretudo uma intérprete de palco, é aí que reside a minha força que depois pode ou nao vir a transformar-se num disco, DVD, etc
Talvez um disco brasileiro inspirado por Clarice Lispector, Manoel de BArros, Raduan Nassar, Tarsila do Amaral….. quem sabe o que levarei comigo desta viagem ( sorriso) Gostaria muito de conhecer o Chico Buarque….. Sou uma admiradora da música brasileira e gostaria de vir mais vezes a este país.

Um comentário:

DIDI disse...

Gostava tambem de lembrar um fadista de nome Fernando Mega que foi vencedor da grande noite do fado em 1982 e esta esquecido na media portuguesa.
www.fernandomega.webs.com