Tudo parecia coletivo naquela época. Nada era individual. Preferíamos o bando, as ruas, a liberdade de ir e vir que ainda não estava muito bem assegurada naquele artigo 5 da nossa atual Constituição, promulgada em 1988. Eram os anos 80. A liberdade chegava com a Anistia, com o primeiro governo civil, o presidente Tancredo Neves, mesmo que eleito por um colégio eleitoral e representante da velhacaria de Centro que apoiou o regime militar. Ele não pôde assumir por uma doença em circunstância até hoje mal-explicadas. Mas nestas cidades do Rio Grande do Sul, o que os adolescentes queriam era o coletivo. A possibilidade de pertencer a turmas cada vez mais enormes que iam junto nos shows de rock e demoravam mais de dois minutos para todos subirem nos ônibus que os levavam de uma cidade a outra, de São Leonardo até Nova Frankfurt. Gente do bem, que cantava, brincava com o cobrador, mas que gostava de algazarra, uma que outra pichação, um não-saber-o-que-fazer com esta tal liberdade, como nos anos 90, uma banda de pagode cantou e descontou um pouco tudo aquilo que a juventude hoje com mais de 30 e perto dos 40, tentou construir. Era época dos Eles e dos Engenheiros no Rio Grande, do Camisa na Bahia, do Barão no Rio, do Legião, Paralamas e Capital em Brasília. Boa parte se drogava, mas não era este o exemplo que copiávamos e sim a atitude libertária, de amanhecer fora de casa, de beber um pouco além da conta, sabendo que alguém da horda iria vestir o traje solidário e ser responsável pelo outro, ouvindo as frases repetidas que todo o bêbado tem pronto no Livro das Idiotices, escrito desde sempre.
(continua...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário