Estavam lá todos eles. Riam, falavam alto, discutiam não sei o quê, mas também não me interessava. Comiam massa à bolognesa ou a guisadigno. Só havia aquela história a martelar a minha cabeça. Era uma onda de crimes em série numa descrição maestrina de Truman Capote, o precursor do jornalismo literário, o new journalism. Caixões Entalhados à Mão. Lembram de A Sangue Frio. Os crimes em série. Muitas perguntas sem resposta. Uma estava pulsando agora. O que seria o fator motivador de uma pessoa até o momento de começar a cometer crimes em série?
A psicopatia e a premeditação eram estados de consciência bem estranhos para minha persona. Neste exato momento, eu não cometeria um crime, em hipótese alguma, nem por legítima defesa, mas o que dizer do futuro. De um acesso de fúria. Uma noite mal-dormida, seguida de sapos engolidos durante o trabalho. Como eu engendraria este tipo de crimes. Seriam com bilhetes, pois o texto é a minha morada. Enigmas ou charadas. Fitas com letras de tango ou apenas o instrumental do jazz ou clássico. Imagine uma pessoa que será assassinada, recebendo um Ipod com músicas do Charlie Parker ou de Richard Wagner, com um bilhete recheado de citações de Edgar Allan Poe, Julio Cortazar ou Jorge Luis Borges. Seria no mínimo hilário. O detetive aquele dos filmes, vivido por Bruce Willis ou Denzel Washington iria contratar um crítico literário e um músico para juntar as peças do quebra-cabeça.
Depois, eu teria que fazer a lista de quem eu mataria, nos meus dias como psicopata. Bom, acho que o Neto, comentarista de tevê e ex-jogador do Corinthians e do Palmeiras. Tem também o Diogo Mainardi, que é tão odiado, que poucos desconfiariam de mim. Aumentaria as chahces do meu álibi dar certo. Estava no cinema vendo um filme argentino do Juan Jose Campanella ou do Fernando Solanas. No rádio, quem sabe poderia dar um fim no Paulo Sant´anna. Claro, o motivo é que ele é gremista, mas isto por si só seria muito pouco. Eu deixaria ele de fora. Os não conhecidos também engordariam a lista, mas como são ignorados não valeria a pena cita-los agora. Eu não tenho inimigos, a menos que eu conheça. Tenho algumas ex-mulheres, mas não as quereria matar.
Muito bem, mas acho que depois deste texto começo a chegar a conclusão de que o cargo de serial killer não remunera bem e não tem lá muita graça, apesar da engenhosidade dos enigmas com Parker e Wagner. E além disso, tem também o quinto dos dez mandamentos, a tábua recebida por Moisés, que não é aquele zagueiro do Vasco e do Bangu, mas o profeta o que abriu o mar vermelho, que também não é a torcida do Inter. Não matarás. Então não matarei. Apenas colocarei um ponto final, pois estes meus apontamentos devem ter apenas uma página.
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