quarta-feira, julho 25, 2012

Como Nascem os Heróis

Um herói está para o nosso mundo ocidental como um bonsai ou uma raiz de ginseng está para a cultura oriental. É raro de se ver, é imprescindível e nos dá esperança de que algo seja válido nesta existência. Os heróis nascem do nosso desejo de acreditar que eles são falíveis, tem defeitos, porém no final sempre irão prevalecer. Quanto ao nascimento de Batman, podemos falar do nascimento histórico, aquele cujas informações nos chegam mentalmente, que foi criado por Bob Kane nos final dos anos 30 e que depois teve histórias desenvolvidas por outros roteiristas e desenhistas como Frank Miller criador do Cavaleiro das Trevas, mas o nascimento do herói Batman se dá no subjetivo na emoção que ele me causou na primeira vez com a qual me deparei com ele na série dos anos 60, ao qual assistia nos anos 70, protagonizada por Adam West. Lá estava incubado o herói que nascia em Batman e tudo o que viria depois faria com que o Batman fosse crescendo cada vez mais como o herói necessário no imaginário dos jovens da minha idade, hoje entre os 40 e 50 anos. O herói nascia no seu público.

Toda esta introdução é necessária para dar a noção de como um herói preenche um imaginário, o inconsciente e o subjetivo das nossas vidas. Ao final da cabine de imprensa de "Batman - o Cavaleiro das Trevas Ressurge", respondi uma perguntas algumas vezes e não me cansei de responder afirmativamente. "Tu chorou?". Sim, é claro, pois os heróis verdadeiros nos emocionam e o Batman, o Cavaleiro das Trevas, concebido na cineversão em  trilogia de Christopher Nolan me seduz desde os acordes atordoantes e estrondosos concebidos por Hans Zimmer, o imenso repertório dramático de um elenco composto por veteranos como Michael Caine, Morgan Freeman, sem contar o protagonista Christian Bale, com sua armadura, seus veículos possantes e indestrutíveis, o vilão, a própria encarnação do mal pelo excelente Tom Hardy e o elenco feminino encabeçado pela "gata" Anne Hathaway e a não menos sedutora Marion Cotillard. O filme é ação, mas é também drama e engenhosidade.

Desta vez, Batman está fora de ação há oito anos, desde que Harvey Dent (o Duas Caras) morreu como herói e ele teve que ser o culpado. Bruce Wayne (Christian Bale) também está recluso, decadente, manco de uma perna, amargando a perda do seu grande amor e vendo a sua Wayne Enterprises ir de mal a pior. O comissário Gordon (Gary Oldman) não tem coragem de dizer a verdade aos cidadãos de Gotham City e a polícia da cidade o quer somente como o policial herói, mas não na ativa, pois os tempos agora são de paz graças a Lei Dent, que tirou os criminosos das ruas e lota os presídios. Nas palavras de Gordon ao final de "Batman - o Cavaleiro das Trevas": Batman é o herói que Gotham merece, mas não aquele de que ela precisa no momento". Neste filme, Batman é o herói que todos precisam. "Ele deve existir", diz Gordon.

Novos personagens surgem e dão a dinâmica necessária aos terríveis acontecimentos que estão para estourar em Gotham. Selina Kyle (Anne Hathaway) rouba colares e bate carteiras, além de ser ágil e boa nos golpes com as elásticas pernas. A Mulher Gato acaba agindo para quem pague mais. E um dos vilões da história, o sócio de Bruce, Dagget (Ben Mendelsohn), acaba precisando de um favor da sedutora ladra. O mal em pessoa, Bane (Tom Hardy), um homem treinado pelo próprio Ra´s Al Ghul (Ralph Fiennes) está vindo. Uma tempestade se abaterá sobre toda a Gotham, conforme anuncia a própria Selina Kyle. "Quando a tempestade se aproximar, vocês vão se perguntar como puderam viver com toda esta opulência". As trevas irão dominar e o mal prevalecerá em Gotham?

Batman vai se mostrar fraco e também irá ressurgir, como todo o herói que se preze. O filme é um prato cheio para quem gosta de drama, quando Alfred (Michael Caine) diz que não quer enterrar mais um Wayne e decide se afastar de Bruce, quando ele pretende voltar à ativa ("Você é a coisa mais preciosa para mim") ou  quando a figura dos órfãos representada pelo policial Blake (Joseph Gordon Hewitt) emerge, fazendo surgir um novo personagem, um policial destemido que irá ajudar Gordon e Batman a salvar Gotham quando a cidade fica sitiada e o terror se instala. Lucius Fox (Morgan Freeman) vai reativar o arsenal de ação de Batman. Miranda Tate (Marion Cotillard) vai seduzi-lo e tentar com que ele siga com o projeto Ficha Limpa, de energia sustentável pela Fundação Wayne. As verdades virão à tona neste clima de terror para 12 milhões de pessoas. 

O filme respeita as tramas e as histórias oriundas dos quadrinhos e dá um acabamento perfeito para a trilogia, trazendo de volta alguns personagens de Batman Begins e de Batman - o Cavaleiro das Trevas, como o Espantalho, agora um juiz a favor do mal. Apesar de ser a conclusão desta épica trilogia sobre o Cavaleiros das Trevas, iniciada com "Batman Begins" e sequenciada com maestria com "Batman - o Cavaleiro das Trevas", o filme de Christopher Nolan que assina o roteiro junto com o irmão Jonathan, a partir de enredo dele e de David S. Goyer, é o menos sombrio deles, pois tem mais cenas diurnas do que noturnas, mas também não deixa de ser o mais desconcertante deles. Poderia discorrer horas sobre o filme, mas dá para elencar uma série de cenas, uma delas é da boa briga de socos, como nos velhos tempos, entre Batman e Bane, enquanto policiais e vilões se enfrentam, e o discurso sobre a importância do medo da morte para mover o homem, no caso o herói, até o seu objetivo que é salvar a sua cidade. Wayne/Batman ainda não deu tudo para a sua cidade e neste confronto com Bane e os demais vilões, a trilogia se encerra com chave de ouro.

Palmas para Nolan, para a Warner, para Hans Zimmer, para os roteiristas, para os atores (especialmente para o excepcional Coringa de Heath Ledger do segundo filme) e principalmente para aqueles que deixaram nascer dentro deles os heróis tão necessários num mundo tão niilista, onde um lunático com armas pode entrar dentro de um cinema e matar a sangue frio e deixar dezenas de feridos. Que nasçam mais heróis como Batman. Que nasçam mais cineastas como Christopher Nolan. Que o cinema vença sempre e continue emocionando a todos.