sexta-feira, outubro 19, 2012

De Pai para Filho desde 1912



Por Luiz Gonzaga (Lopes)

Não haveria como eu não me envolver com este filme Gonzaga – de Pai para Filho, com direção e roteiro de Breno Silveira, que estreia nesta sexta-feira, dia 19 de outubro, nos cinemas. A começar pelo nome, pois como vocês estão sendo resolvi assinar o texto de cima para baixo. Desde que eu me conheço por gente, quando chego em um lugar e digo o meu nome, algum gaiato responde e cadê a sanfona. No início, eu respondia: “deixei em casa” ou “está na carteira” etc. e tal. A questão é que o velho Lula, ou Lua, ou Gonzagão povoa o imaginário brasileiro da segunda metade do século 20, pela história de persistência em popularizar no Rio e São Paulo (Sul, como diz o ator que vive dos 27 aos 50 anos, Chambinho do Acordeon) um estilo totalmente nordestino, o baião.

A despeito das escolhas narrativas de Breno Silveira que opta sempre pelo folhetim ao contar uma história, pela busca do drama, este filme se encaixa no estilo do cineasta, pois o retrato desta entidade da música brasileira é duro e mostra o jovem Gonzaga (Land Vieira e depois Nivaldo Expedito Carvalho) que procurou o sucesso que o tiraria daquela realidade nordestina da cidade pernambucana de Exu, onde amava Nazarena, a Nazinha (Cecília Dassi), filha do coronel Raimundo Delgado, mas apesar de ser correspondido, o pai dela jamais iria permitir o casamento com um garoto “sem eira nem beira”. Ele tinha era a sua sanfona, que também era o amor do pai Januário. Para ser alguém, se alistou no Exército em Fortaleza (CE), mas nunca deu um tiro em ninguém.

A opção pela narrativa a partir do ano de 1981 é acertada, pois foi neste ano em que Gonzaguinha (em uma atuação e uma caracterização magistral do ator gaúcho Julinho Andrade, nenhuma novidade para quem já o viu atuando pelos teatros de Porto Alegre com o Depósito de Teatro e em outras montagens como o Menino Maluquinho) após emplacar a carreira e as capas das principais revistas e jornais do país resolve voltar para acertar os ponteiros com o passado e principalmente com o seu velho pai.



O encontro entre Gonzagão (1912-1989) e seu filho, o cantor e compositor Gonzaguinha (1945-1991) é tenso, mas o pai começa a contar a sua vida ao filho e Gonzaguinha começa a entender os amores, a luta do pai, que acabou afastando-o da família e principalmente da mãe do cantor de MPB, Léa (vivida por Nanda Costa, que será protagonista de Salve Jorge, nova novela das nove da Globo). O recurso do flash back, desgastado em alguns outros filmes brasileiros, nesta cinebiografia acaba tendo um grande efeito, pois quem acompanha os desajustes entre pai e filho, a partir do respeito que Gonzaga tinha por Januário (“Respeita Januário”), a ideia de que Gonzaguinha deveria ser doutor, o acompanhamento da forma como ele compunha as suas músicas, com as letras sempre precisas de Humberto Teixeira, o parceiro que ele conseguiu com persistência pelas ruas da Lapa Carioca, tudo conspira neste filme. Como não se impressionar com: “quando olhei a terra ardendo e a fogueira de São João / eu perguntei a meu Deus do céu / por que tamanha judiação”. Outra letra que também retrata o sentido do popular em Gonzagão é A Vida do Viajante: “Minha vida é andar / Por esse país / Pra ver se um dia / Descanso feliz / Guardando as recordações / Das terras por onde passei / Andando pelos sertões / E dos amigos que lá deixei”. Uma das cenas do filme em que ele toca na marquise do Cine Pax, no Rio de Janeiro também traduz esta noção do popular, de tocar para o povo e não somente por dinheiro ou fama.



A vida do Rei do Baião teve tons épicos, por que não? Breno Silveira soube condensar os avanços e recuos no roteiro, com o tom exato de dramaticidade necessário a personagens da história da música como estes dois personagens. Um dos destaques do filme é cena que foi real quando Luiz Gonzaga impressionou Ary Barroso em um programa de rádio carioca nos anos 60. A decadência de Luiz Gonzaga e a ascensão de Gonzaguinha são mostradas sem comedimento, com a participação de alguns bons atores coadjuvantes como Silvia Buarque e Luciano Quirino, como os padrinhos de Gonzaguinha, que realmente criaram o menino e jovem Gonzaguinha no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro e também de Roberta Gualda, que vive Helena, a mulher que assume o coração de Gonzagão com a morte de Léa, por tuberculose.

O filme é bom de ver, resgata duas biografias importantíssimas na história da música brasileira e uma época que ao mesmo tempo foi difícil, pois Sem contar a infinidade de músicas que todos nós gostamos de ouvir um dia e que hoje talvez não tenhamos tempo para tal como “Asa Branca”, “Xamêgo”, “Vira e Mexe”, “Paraíba” e “A Vida do Viajante”, cuja turnê em 1981 de Gonzagão e Gonzaguinha foi um enorme sucesso. Uma história a ser contada. Um filme necessário para a cinematografia brasileira. Uma das grandes estréias, senão a maior estreia da semana.


GONZAGA DE PAI PRA FILHO
Elenco: Chambinho do Acordeon, Julio Andrade, Land Vieira, Luciano Quirino, Nanda Costa, Ana Roberta Gualda, Claudio Jaborandy, Cyria Coentro, Giancarlo di Tomazzio.
Direção: Breno Silveira
Gênero: Drama
Distribuidora: Downtown Filmes
Duração: 120 min
Sinopse: Um pai e um filho, dois artistas, dois sucessos. Um do sertão nordestino, o outro carioca do Morro de São Carlos; um de direita, o outro de esquerda. Encontros, desencontros e uma trilha sonora que emocionou o Brasil. Esta é a história de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e de um amor que venceu o medo e o preconceito e resistiu à distância e ao esquecimento.
Site: www.gonzagadepaiparafilho.com.br


quarta-feira, outubro 17, 2012

O "Homem-Massa" visita o Século XXI



Conforme o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), o “homem-massa” é um novo bárbaro, que vive na cultura como em estado de natureza, que se ocupa em desocupar-se. Pois o filósofo e atual secretário adjunto da Cultura do Rio Grande do Sul, o filósofo Jéferson Assumção, resolveu transpor ao livro “Homem-Massa – a filosofia de Ortega y Gasset e sua crítica à cultura massificada” o resultado de uma pesquisa e posterior dissertação ao Doutorado em Humanidades e Ciências Sociais da Universidade de León, na Espanha. A obra editada pela Bestiário e Fundación Ortega-Marañon terá lançamento nesta quarta-feira, 17 de outubro, às 19h, na Pinacoteca (República, 409). Em entrevista a este blogueiro, Jéferson fala sobre a obra, sobre os pontos mais importante da filosofia de Ortega y Gasset e sobre o raciovitalismo. 


1 - Como foi a concepção do livro e qual a ideia básica da obra. Originalmente era uma dissertação para o Diploma de Estudos Avançados (DEA) na Universidade de León, teve algumas adaptações para ter o ritmo de um livro aberto a outros interessados extra-acadêmicos?

O livro resulta de uma pesquisa sobre o conceito de "homem-massa", dos principais da fiosofia do espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), para a Suficiência Investigadora do programa de Doutorado em Humanidades e Ciências Sociais da Universidade de León, Espanha. Teve alguma adaptação, pequena, para um público mais aberto, mas ainda assim a própria dissertação originalmente segue uma linha, eu diria, um tanto orteguiana, ensaística, menos rígida. Ortega tinha uma forma própria de expor seu pensamento, francamente oposto à linguagem tradicional da filosofia acadêmica. "A clareza é a cortesia do filósofo", ele dizia. E a filosofia, profundo esforço de buscar a superfície, de se manter flutuando no mar do absurdo. Ortega sempre tentou evitar o hermetismo e a mera exibição de "bíceps de feira do tecnicismo acadêmico" - como ele definia. Escreveu na encruzilhada entre filosofia, sociologia, jornalismo e literatura, buscando juntar o que há de mais interessante em cada uma dessas áreas, numa exposição elegante, desportiva, de suas ideias - a maioria publicada em jornais espanhóis e latino-americanos das primeiras décadas do século XX. Ele se incomodava muito com o idealismo e o racionalismo, mas não sentia suficiência em um pensamento meramente vitalista. Por isso seu filosofar é "Raciovitalista". E seus textos coerentes com esta intersecção entre razão (filosofia e sociologia) e vida (jornalismo e literatura). Eu tentei seguir esta forma de exposição, obviamente que com resultados bem menos interessantes que os do filósofo espanhol. Para o livro, escrevi uma Introdução e um Posfácio, nos quais coloco mais frontalmente minhas opiniões sobre o tema e proponho uma forma de abordagem atual para ele. No “corpo do livro”, limito-me a expor o que Ortega pensava, coisas que, hoje em dia talvez soem um pouco anacrônicas e até mesmo preconceituosas a respeito da relação massa e minoria, por exemplo. Mas que, para um pesquisador sobre o tema, é mais importante que tenha um certo nível de objetividade e distanciamento.


Crédito: Eduardo Seidl / Divulgação

Quais os pontos mais importantes da filosofia de Ortega y Gasset e com o que você concorda ou não?

Concordo com sua visão de cultura como “esforço natatório”, gosto muito de sua estética, de sua ética da gratuidade, de sua exigência de criatividade antiqueixosa contra o coitadismo, da maneira como ele considera o homem-massa paciente, mas também agente (ou seja, responsável em certa medida) por sua condição de massa, devido às suas escolhas etc. Acho que a ideia de coimplicação eu-circunstância, ou seja, de que o ser humano não é apenas o sujeito encapsulado em si mesmo, mas também não é apenas circunstância (corpo, psiquismo, língua, pátria etc) mas um amálgama desses dois, de que recebeu gratuitamente uma vida, mas que esta não lhe foi dada pronta e sim por fazer. Que ele tem que fazê-la criativamente, com esforço diário de dar sentido a essa flecha já lançada, que está forçado a esta liberdade (o que ele disse antes mesmo de Sartre). Que pode escolher massificar-se na heteronomia, vivendo as leis do outro, ou, o que seria mais nobre, conforme Ortega, tentar viver de maneira mais autônoma, elegendo o seu programa de vida e sendo responsável ele. Mesmo a mais pobre das pessoas, para Ortega, é portadora dessa vocação inicial do ser humano, dessa chama de humanidade. Claro que as circunstâncias pesam e muitas vezes desanimam, diminuem a alma, o ímpeto. Mas isso não pode resultar em angústia. Ortega chamava isso de o “caráter desportivo da moral”, avesso à asfixia da angústia existencialista e ao queixume de autores materialistas ou religiosos, que ele também evitava. A ideia de que a vida humana individual é a realidade radical, mas que nós somos um ser-com-os-outros, milhões de eus-circunstâncias geradores de um perspectivismo universalmente distribuído inversa à fragmentação relativista, é portadora de uma ideia de humanidade muito rica. Acho tudo isso ainda muito válido para fundamentar uma ideia de sociedade que não desmoralize seus integrantes, que leve em consideração que as pessoas não são apenas circunstâncias, não são apenas zoe, mas biós, duas palavras para designar “vida” em grego, o primeiro mais ligado à biologia e o segundo, cheio de narrativa pessoal, de razão narrativa, como dizia Ortega, à biografia de cada um. Ortega era muito bélico em relação às instâncias que achatavam o ser humano, principalmente o estado ortopédico, da revolução bolchevique, e o mercado de massas, que ele via nascer com a emergência dos Estados Unidos. O homem-massa do início do século XX tinha duas capitais, Moscou e Nova Iorque, ambas cidades representavam simbolicamente grandes centros geradores de heteronomia. E de homens-massa.

3 - Quais as questões do conceito de homem-massa de Ortega y Gasset que devem ser trabalhados nos dias de hoje e quais as soluções para a sociedade que podem ser postas a partir da problematização orteguiana

Bom, eu não posso ser considerado um orteguiano clássico, mesmo tendo feito minha dissertação e a tese de doutorado sobre temas de Ortega e escrito alguns artigos sobre questões orteguianas. Não acho que as soluções por ele apontadas para o problema da heteronomia e da rebelião das massas sejam as mais adequadas. Por exemplo, uma volta das minorias ao seu papel de educador das massas, de pedagogo social, por meio de uma reforma radical da educação, reintroduzindo nela o que falta de vital e retirando o que sobra de razão físico-matemática, geradora dos bárbaros especialistas: aquele que sabe tudo sobre quase nada e balbucia sobre o resto, como um bárbaro. Este, segundo Ortega, é capaz de fazer uma cirurgia muito complexa e ao mesmo tempo ter uma visão infantil sobre como a sociedade se estrutura. Mas ele achava, em sua época, em plena fé na indústria cultural e nas impressoras rotativas, que as minorias intelectuais poderiam, pela exemplaridade, reinvertebrar a sociedade massificada. Era um outro tempo e ele pensava que a “saudável” tensão massa-minoria havia se rompido e disso resultou a rebelião das massas do início do século XX, ou seja, a emergência de um tipo de pessoas que se aproveitou dos benefícios dos avanços técnicos do século XIX e início do XX para massificar-se, desresponsabilizar-se, para colher os frutos da cultura como se esses fossem produtos da natureza.

Crédito: Eduardo Seidl / Divulgação

4 - Um dos capítulos de A Rebelião das Massas que mais me atenho e gosto é "A Época do Senhorzinho Satisfeito" que fala exatamente do homem vulgar, que impõe a sua barbárie e o seu primitivismo. O filósofo falava da história europeia, mas de certo modo a indústria cultural tornou a nos dar muitos homens vulgares na música, na literatura. Qual a sua análise à luz de Ortega y Gasset?

Ele dizia que o homem-massa é um bárbaro que ascendeu pelo alçapão da história e que vive na cultura como em estado de natureza. Fala, mas não sabe de onde vieram as palavras, liga o interruptor e surge a luz, liga o carro e ele parte, como se isso tudo não viesse do acúmulo da cultura, de um passado construído com esforço individual e coletivo. O homem-massa é o mocinho satisfeito pela técnica, que despreza a cultura. Este é o mais contundente diagnóstico orteguiano. Agora, massa não coincide com classe social. Não se trata, em Ortega, de um conceito sociológico e sim filosófico. O rico, o pobre, o classe média podem ser, por escolha de sua vontade e de acordo com o esforço que faz para dar sentido à sua vida um homem-massa ou o que ele chamava de um homem-autêntico. Esse diagnóstico segue vigente, talvez mais vigente hoje do que nos anos 30 do século passado. No entanto, hoje vivemos uma mudança nas condições técnicas que foram fundamentais para a emergência do homem-massa. Sobre isso, escrevi um posfácio chamado “Cultura digital e desmassificação”. Se o diagnóstico de Ortega está certo, ou seja, de que a técnica daquele período engendrou o homem-massa, podemos nos perguntar se as novas tecnologias e o uso cultural delas, a cultura digital, oa ambientes pós-massivos, a cultura colaborativa em rede, a diminuição da centralidade do mediador, das indústrias culturais tradicionais, a desmaterialização dos suportes da arte, do conhecimento e da informação, em que em vez da mão única e do monólogo dos meios de entretenimento temos hoje a muldidirecionaridade dos fluxos de informação, podemos estar gerando um ambiente mais favorável à desmassificação? Tudo depende do uso dessas tecnologias para gerar mais autonomia ou mais heteronomia: consumo, principalmente. Eu acho que hoje, momento em que vivemos ao mesmo tempo as camadas pré-industrial, industrial e pós-industrial, temos também homens solipsistas, homens-massa, homens-massa customizados e pós-homens-massa. Por homens-massa customizado chamo aqueles que a indústria atual faz parecer que suas escolhas são autônomas e que sua produção não é mais em série. São nichos possibilitados pelos avanços técnicos de produção sob demanda de menor custo que dão a impressão de individualidade e pessoalidade nesses produtos. O símbolo maior disso é uma marca de refrigerente colocar nome de pessoas na lata, para consumo de homens-massa customizados. Mas a cultura digital vem dando condições, pelo menos tecnológicas, para se driblar esse uniderecionamento dos desejos, fazendo com que tenhamos mais condições para sair do que Ortega chamava de a crise dos desejos do século XX e a substituição de valores por preços. Vejo com otimismo a possibilidade de apropriação cidadã, autônoma, dessas tecnologias, gerando uma diminuição da dependência do sujeito ao Estado ortopédico ou ao mercado de consumo. Há um terceiro elemento, emergente com a cultura digital: o Comum. Mas isso Ortega jamais poderia imaginar que poderia vir a acontecer como fato social tal como hoje.


5 - Como secretário-adjunto de Estado da Cultura e também ex-coordenador-geral do Plano Nacional do Livro e da Leitura, queria uma opinião sobre como se inseriria o pensamento de Ortega y Gasset e o tua tese de Doutorado nas questões ligadas ao livro e leitura e a um maior acesso à cultura?
Em minha tese “A Ilustração Vital; O Racionalismo de Ortega y Gasset como via para o desenvolvimento de uma sociedade leitora”, ainda inédito, utilizo o conceito de leitor-massa e o contraponho ao de “leitor vital”, ou seja, um tipo de leitura utilitária e pragmática, com respeito a fins mais de ordem técnica, para inserção no mercado ou de simples resposta consumista aos produtos que o mercado inculca como “os melhores livros” etc. Precismos buscar desenvolver leitores vitais, leitores culturais, cuja relação com a leitura ultrapasse o funcional e se torne um hábito cultural que se leva para a vida. Ler porque necessitamos dar sentido a nós mesmos e ao mundo à nossa volta, com mais autonomia do que receber as respostas de fora. Como dizia Paulo Freire, muito orteguianamente: aprender a dizer a própria palavra.



quinta-feira, outubro 04, 2012

A Lua Castelhana de Maria da Graça



A escritora Maria da Graça Rodrigues lança o seu segundo livro “Lua Castelhana” (Editora Movimento), na noite desta quinta-feira, às 19h, no Mezanino da Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country (Túlio de Rose, 80, 2º piso). Dois anos depois da obra de estreia, “Helena de Uruguaiana”, a autora uruguaianense nos traz um romance estruturado em 51 capítulos curtos, contando uma história que se desenrola entre 1950 e 2010 entre as cidades de Bella Unión, Punta del Diablo e Punta Del Este, no Uruguai;  Uruguaiana e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

O personagem principal do romance é um jogador de futebol, Juan Rios Ortega, nascido em Bella Unión, mas residente em Uruguaiana. Quando tranfere-se para jogar num grande clube de Porto Alegre, inicia um romance com a jornalista Ana Lúcia Silva, que entrevista um político brasileiro exilado no Uruguai e tempos depois é sequestrada. Em entrevista a este blogueiro, Maria da Graça fala do processo de criação do livro, da história e dos escritores de Uruguaiana, entre outros assuntos.

P - Como foi concebido o Lua Castelhana?
R - Há muito venho colecionando plots para romances.  Só recentemente consegui condições e tempo necessários para mergulhar na feitura de minhas obras de ficção. Muitos se originaram de impressões fortes que me acompanham desde a infância, como é o caso do Lua Castelhana, pleno de lembranças de minha primeira ida ao Uruguai quando tinha em torno de seis anos de idade.

P - Quais as características da escritura dos autores de Uruguaiana?
R - Eu diria que o ponto em comum é o gosto por escrever,  pois cada um tem seu estilo e temática própria. Há uma lista enorme de grandes talentos da literatura nascidos em Uruguaiana. Dando apenas alguns exemplos: Alceu Wamosy e Gonçalves Vianna já falecidos. Tabajara Ruas e Vera Molina na prosa,  Luiz de Miranda, Nei Duclós, Colmar Duarte na poesia e Cícero Galeno Lopes que além de grande contista, agora estreou com sucesso na poesia. 

P -  As temáticas que envolvem o futebol e o sequestro ligado a temas políticos eram do teu universo de vivência ou foram recolhidos ao longo do tempo?
R - Política e futebol são assuntos apaixonantes, não tem como ficar alheio a eles. Mas meu romance aborda o drama humano de um jogador de futebol e não o esporte em si. Quanto a política, sou de uma geração de brasileiros que testemunhou os anos de chumbo. As sequelas deixadas por duas décadas de privação de liberdade e pela barbárie decorrente do arbítrio e do abuso de poder é justamente o foco do meu romance. 

P - Qual a importância das oficinas literárias e dos cursos teóricos como graduação e Pós na área de letras para o desenvolvimento do escritor?
R - Acho que uma boa base teórica pode, sim, colaborar no  desenvolvimento do escritor, mas com limitações. O estilo, a maneira de criar e o que dizer aos seus leitores, isto nenhuma oficina ou curso poderá ensiná-lo. Ele fará estas descobertas sozinho, no simples exercício de sua escrita.