Por Luiz Gonzaga (Lopes)
Não haveria como eu não me envolver com este filme Gonzaga –
de Pai para Filho, com direção e roteiro de Breno Silveira, que estreia nesta
sexta-feira, dia 19 de outubro, nos cinemas. A começar pelo nome, pois como vocês
estão sendo resolvi assinar o texto de cima para baixo. Desde que eu me conheço
por gente, quando chego em um lugar e digo o meu nome, algum gaiato responde e
cadê a sanfona. No início, eu respondia: “deixei em casa” ou “está na carteira”
etc. e tal. A questão é que o velho Lula, ou Lua, ou Gonzagão povoa o imaginário
brasileiro da segunda metade do século 20, pela história de persistência em
popularizar no Rio e São Paulo (Sul, como diz o ator que vive dos 27 aos 50
anos, Chambinho do Acordeon) um estilo totalmente nordestino, o baião.
A despeito das escolhas narrativas de Breno Silveira que
opta sempre pelo folhetim ao contar uma história, pela busca do drama, este
filme se encaixa no estilo do cineasta, pois o retrato desta entidade da música
brasileira é duro e mostra o jovem Gonzaga (Land Vieira e depois Nivaldo
Expedito Carvalho) que procurou o sucesso que o tiraria daquela realidade
nordestina da cidade pernambucana de Exu, onde amava Nazarena, a Nazinha (Cecília
Dassi), filha do coronel Raimundo Delgado, mas apesar de ser correspondido, o
pai dela jamais iria permitir o casamento com um garoto “sem eira nem beira”. Ele
tinha era a sua sanfona, que também era o amor do pai Januário. Para ser alguém,
se alistou no Exército em Fortaleza (CE), mas nunca deu um tiro em ninguém.
A opção pela narrativa a partir do ano de 1981 é acertada,
pois foi neste ano em
que Gonzaguinha (em uma atuação e uma caracterização
magistral do ator gaúcho Julinho Andrade, nenhuma novidade para quem já o viu
atuando pelos teatros de Porto Alegre com o Depósito de Teatro e em outras
montagens como o Menino Maluquinho) após emplacar a carreira e as capas das
principais revistas e jornais do país resolve voltar para acertar os ponteiros
com o passado e principalmente com o seu velho pai.
O encontro entre Gonzagão (1912-1989) e seu filho, o cantor
e compositor Gonzaguinha (1945-1991) é tenso, mas o pai começa a contar a sua
vida ao filho e Gonzaguinha começa a entender os amores, a luta do pai, que
acabou afastando-o da família e principalmente da mãe do cantor de MPB, Léa
(vivida por Nanda Costa, que será protagonista de Salve Jorge, nova novela das
nove da Globo). O recurso do flash back, desgastado em alguns outros filmes
brasileiros, nesta cinebiografia acaba tendo um grande efeito, pois quem
acompanha os desajustes entre pai e filho, a partir do respeito que Gonzaga tinha
por Januário (“Respeita Januário”), a ideia de que Gonzaguinha deveria ser
doutor, o acompanhamento da forma como ele compunha as suas músicas, com as
letras sempre precisas de Humberto Teixeira, o parceiro que ele conseguiu com
persistência pelas ruas da Lapa Carioca, tudo conspira neste filme. Como não se
impressionar com: “quando olhei a terra ardendo e a fogueira de São João / eu
perguntei a meu Deus do céu / por que tamanha judiação”. Outra letra que também
retrata o sentido do popular em Gonzagão é A Vida do Viajante: “Minha vida é
andar / Por esse país / Pra ver se um dia / Descanso feliz / Guardando as
recordações / Das terras por onde passei / Andando pelos sertões / E dos amigos
que lá deixei”. Uma das cenas do filme em que ele toca na marquise do Cine Pax,
no Rio de Janeiro também traduz esta noção do popular, de tocar para o povo e não
somente por dinheiro ou fama.
A vida do Rei do Baião teve tons épicos, por que não? Breno
Silveira soube condensar os avanços e recuos no roteiro, com o tom exato de
dramaticidade necessário a personagens da história da música como estes dois
personagens. Um dos destaques do filme é cena que foi real quando Luiz Gonzaga
impressionou Ary Barroso em um programa de rádio carioca nos anos 60. A decadência de Luiz
Gonzaga e a ascensão de Gonzaguinha são mostradas sem comedimento, com a
participação de alguns bons atores coadjuvantes como Silvia Buarque e Luciano
Quirino, como os padrinhos de Gonzaguinha, que realmente criaram o menino e
jovem Gonzaguinha no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro e também de Roberta
Gualda, que vive Helena, a mulher que assume o coração de Gonzagão com a morte
de Léa, por tuberculose.
O filme é bom de ver, resgata duas biografias importantíssimas
na história da música brasileira e uma época que ao mesmo tempo foi difícil,
pois Sem contar a infinidade de músicas que todos nós gostamos de ouvir um dia
e que hoje talvez não tenhamos tempo para tal como “Asa Branca”, “Xamêgo”, “Vira
e Mexe”, “Paraíba” e “A Vida do Viajante”, cuja turnê em 1981 de Gonzagão e
Gonzaguinha foi um enorme sucesso. Uma história a ser contada. Um filme necessário
para a cinematografia brasileira. Uma das grandes estréias, senão a maior
estreia da semana.
GONZAGA DE PAI PRA FILHO
Elenco: Chambinho do Acordeon, Julio Andrade, Land Vieira,
Luciano Quirino, Nanda Costa, Ana Roberta Gualda, Claudio Jaborandy, Cyria
Coentro, Giancarlo di Tomazzio.
Direção: Breno Silveira
Gênero: Drama
Distribuidora: Downtown Filmes
Duração: 120 min
Sinopse: Um pai e um filho, dois artistas, dois sucessos. Um
do sertão nordestino, o outro carioca do Morro de São Carlos; um de direita, o
outro de esquerda. Encontros, desencontros e uma trilha sonora que emocionou o
Brasil. Esta é a história de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e de um amor que
venceu o medo e o preconceito e resistiu à distância e ao esquecimento.
Site: www.gonzagadepaiparafilho.com.br
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