terça-feira, julho 24, 2007

Inverno Culto


Nesta segunda-feira, Porto Alegre começou a cumpriu sua promessa para comigo: me proporcionar um inverno mais culto. O dia foi intenso. Tive que tirar férias no jornal que trabalho – o Diário de Canoas – para poder acompanhar melhor todas as atividades. Logo pela manhã, o curso sobre Friedrich Nietzsche, ministrado pelo professor doutor paulista Osvaldo Giacóia Jr. (o que escreveu o Folha Explica sobre o filósofo), no Teatro de Câmara.
O tema da manhã foi a morte de Deus na obra do autor de Humano, Demasiado Humano. O professor Giacóia iniciou a incursão pelo mundo do esclarecimento e também do niilismo a partir do aforismo 125 de A Gaia Ciência: O Homem Louco.
Em síntese, o homem que procura Deus, descobre que todos nós o assassinamos e nos tornamos senhores do nosso destino, emancipando a nossa razão. Sem Deus e sem a sua metáfora maior do mar e do horizonte, o infinito e o absoluto caem por terra e sobrevive o intelecto como sujeito, com o homem deixando a condição de vassalagem. Nesta interpretação sobre a morte de Deus, as igrejas passam a ser os mausoléus e os túmulos de Deus.
Bom, a manhã passou voando, mas aterrissou tranqüila, sem tentar arremeter.

A tarde foi corrida, mas consegui chegar a tempo do seminário Os Jogos Secretos de Julio Cortázar, com o professor da Universidade de Buenos Aires, Martin Paz. Fui ao evento com a minha mulher, Nara. De início, houve uma reprodução de áudio de um fragmento do conto A Casa Tomada, do livro Bestiário. A partir da constatação da dicção do R cortazariano e do seu estrangeirismo, afrancesado, o mestre portenho apresentou a biografa do escritor nascido em Bruxelas em 1914, no início da 1ª Guerra Mundial, cuja família voltou à Argentina em 1918 para moram no subúrbio, em Banfield. Os dados biográficos mostram o contraste entre o burguês e o popular: tango ou jazz é o exemplo maior. A publicação da peça Os Reis (1948) e de Bestiário (1951), a bolsa do governo francês em 1958 e a publicação de Rayuela (O Jogo da Amarelinha em 1963 são peças da engrenagem do homem que passa a ser personagem no mundo. No estrangeiro, passa a ser um exilado pela literatura e a defender o enfrentamento dos regimes totalitários latino-americanos. Com uma série de dicas de contos que serão trabalhados na terça-feira, como O Outro Céu, Axolotes e Auto-estrada do Sul, Paz encerra a sua aula, chamando para a Possibilidade do Relato Fantástico: tema da segunda aula.

E o que falar da noite no Teatro Renascença. Tenho 38 anos e ainda não havia visto a dupla Sá e Guarabira tocando, muito menos com o terceiro integrante Zé Rodrix. Os caras são lendas-vivas. Tocam muito, são divertidos e passaram a desfilar sucessos e anônimas canções lindas. Dona, Casa no Campo, Te Amo Espanhola, O Pó da Estrada e Caçador de Mim. Não precisa dizer mais nada. Show de 1h30, com bis de 15 minutos. Noite memo e rememorável. De bater pezinho, como diz o Arthur de Faria.

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