segunda-feira, dezembro 10, 2007

A morte do Ano


Ele estava terminando. O Ano estava se consumindo e nenhum remédio iria curá-lo. Da masmorra das suas memórias, conseguia lembrar de CPMF, do título do São Paulo, do desastroso primeiro ano governo Yeda Crusius, da Copa América, da violência urbana e outros pequenos estilhaços de uma existência pungente nas pessoas que nele viveram neste Brasil mais baixos do que altos. A gota letal seria de um lenitivo chamado Dezembro e que tinha como contra-indicações as Festas de Fim de Ano (uma espécie de velório antecipado) e o Natal (ah! esta cruel lembrança de um nascimento que ocorre no fim da vida do meu amigo Ano). Pronto, falei! Faltam 21 dias. Crônica de uma morte anunciada. Já estou vendo a São Silvestre (foto) na tevê e os fogos de artifício (estes ardis ideais de felicidade que nos queimas e consumem a todos, pois não dão esperança só as tiram). Todos esperam que o Ano se acabe. Eu queria ficar mais um pouco com ele. Dizer o que não achei certo para que ele pudesse corrigir alguns dos seus defeitos, o de ter nascido ímpar, por exemplo. Mas ainda não deu. O trabalho e cotidiano me impedem de pensar no Ano e de acompanhar atento o seu fim. Que todos prestem atenção na dor de um agonizante e que não me venham com festinhas, champanhe, porquinho, lentilha e mais fogos pelo Outro que vai nascer (não o Jesus, é claro, mas sim este Outro que também vão chamar de ano, apenas mudando o número). Eu sei que está acabando, mas vou ficar ao seu lado no leito de morte anual. E respeitem a minha dor!

Um comentário:

Guilherme Póvoas disse...

Não nos resta outro a culpar. 2007 é o bode expiatório. Desastroso 2007.
Ps.: Cara, me lembrou daquela corridinha batida que a Globo tenta deixar emocionante e que temos que aguentar todo dia 31/12. Putz, lá vem ela de novo. E ultimamente não tem nem mais os quenianos para dar um charme africano à São Silvestre.
www.guilhermepovoas.blig.ig.com.br