domingo, abril 11, 2010

Disney pasteuriza a Alice de Burton


Não adiantou um grande diretor colocar as suas mãos e sua inventividade estética a serviço de Alice. O filme Alice no País das Maravilhas que estréia em Porto Alegre no próximo dia 21 de abril é belo, porém pasteurizado pelo efeito Disney, que mais recentemente só conseguiu deixar à vontade o primeiro filme dos Piratas do Caribe, transformando as duas seqüências em filmes de muita aventura e grande limitação narrativa.

Neste filme, Tim Burton até que tenta criar grandes licenças poéticas dentro da mitologia criada por Lewis Carroll, transformando o Chapeleiro Louco num personagem mais destacado que Alice, os méritos vão todos à parceria com Johnny Depp que transforma o Hater em um terno e insano personagem, fundamental para o desenvolvimento da história, às vezes até com um pouco de flerte com a jovem Alice (Mia Wasikowska).

Apesar do empacotamento da narrativa por conta do estúdio que a produziu e de algumas pequenas falhas de roteiro e continuidade, como no caso das cenas em que Alice estica e encolhe, nas quais as roupas não seguem a proporção exata, o filme tem algumas riquezas que não podem ser desprezadas.
As criações de Burton para situações como a cena do chá, o jogo de croqué no castelo, as criaturas como o gato Cheshire (Stephen Fry) e a lagarta Absolom (Alan Rickman) são realmente impressionantes, assim como a atuação de Helena-Bonham Carter como a cabeçuda Rainha de Copas. Destaque negativo para a interpretação afetada e caricata de Anne Hathaway como a Rainha Branca.

Na história de Burton, que compila situação de Alice no País das Maravilhas com Alice Através do Espelho, a jovem está com 19 anos e está sendo pedida em casamento por Hamish (Leo Bill), filho de Lord Ascot (Tim Pigot-Smith) do sócio do seu pai Charles Kingsley, já falecido, que lhe apresentou 13 anos antes a história da menina no País das Maravilhas.

Ao fugir do coreto foi pedida em casamento, Alice foge e vai atrás do Coelho Branco (Michael Sheen), caindo num buraco e enfrenta situações como a de esticar e encolher, depois conhece personagens extremamente engraçados como os gêmeos gordos Tweedledee e Tweedledum (Matt Lucas). Muitos destes personagens questionam se ela é a verdadeira Alice, que com a espada Vorpal vai matar Jabberwock (Christopher Lee) no Dia Colossal e devolver a coroa à Rainha Branca, usurpada pela Rainha de Copas, aquela que quer sempre cortar as cabeças de seus adversários e seu fiel escudeiro, o valete Ilosovic Stayne (Crispin Glover).

Alice passa o tempo inteiro pensando que tudo é um sonho e assim enfrenta os seus medos e alguns monstros como o temível Bandersnatch, mas ela descobre que já esteve no País das Maravilhas 13 anos antes e até o fim da jornada, o Dia Colossal, ajudada pelo Chapeleiro e outros personagens como o cão farejador Bayard (Timothy Spall), o Rato (Barbara Windsor) e a Lebre (Paul Whitehouse).
A partir do que está escrito no Compendium, todos já sabem que Alice realmente será a campeã e vai enfrentar o monstro alado da cabeçuda Rainha de Copas. Alice não tem tanta certeza, mas lembra que às vezes acredita em seis coisas impossíveis antes do café da manhã, quando já está com a armadura para a batalha final: numa poção que a faz encolher, num bolo que a faz crescer, em animais que falam, em gatos que aparecem e desaparecem, no País das Maravilhas e, finalmente, que ela pode matar Jabberwock.

O clima final do filme já é totalmente Disney, o que tira um pouco o brilho da batalha, pois tem um quê de redenção fabular, mas não tira o mérito da versão de Burton para o clássico de Carroll. A coroa volta para a Rainha Branca e a Rainha de Copas é punida. No final, mais méritos para a interpretação de Johnny Depp, que faz o Chapeleiro Louco dançar magistralmente a dança da vitória, o Futterwacken, e com um olhar carente consegue dar magia à despedida de Alice, que vai voltar a superfície dos vivos, longe do País das Maravilhas. Destaque também para a voz de Alan Rickman, como a sábia lagarta Absolom.

Na volta do buraco, Alice resolve todos os problemas que tinha e ainda vai se aventurar a comercializar produtos ingleses na China, sendo aprendiz de Lord Ascot. Nesta parte do texto, aparece um pouco da verve imperialista do texto de Lewis Carroll, tão comum aos ingleses e a seus genéricos estadunidenses. Um bom filme, um pouco atenuado pelo impacto dos estúdios Disney.

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