Os simulacros, conforme o
conceito de Jean Baudrillard, podem ser simulações, experiências ou códigos que
podem ser mais reais do que a realidade, hiper-reais. No filme, a guerra entre os
Velrans e os Longevernes parece mais real do que a real que é a guerra civil em
Argel no início dos anos 60, na qual os soldados franceses perdem suas vidas,
representados en passant no filme por Tintim, irmão de Lanterna (Salomé Lemire),
a menina que se veste de menino e que é boa nas lutas e no estilingue. As batalhas
entre as pequenas gangues, como chamamos hoje, começam com uma fruta atirado de
um estilingue, espadas de madeira, armadilhas e a punição aos derrotados ou
capturados pelos inimigos é tirar todos os botões das camisas, o que fará com
que eles apanhem dos pais.
Os momentos engraçados do
filme são puxados pelo elenco adulto, pois os professores Merlin (Eric
Elmosino), de Longevernes, e Labru (Alain Chabat), de Velran, quando se
encontram acabam se ofendendo e rolando pelo chão, protagonizando brigas muito
mais toscas do que os meninos. Num clima realmente de guerra, onde ninguém
morre, mas se conquista território, e temos códigos e até uma bandeira feita de
retalhos de vestido, eles terão que superar os seus dramas pessoais, lutar por
uma vida melhor, fazer escolhas como Lebrac, que pode tentar uma bolsa numa
escola melhor, mas precisa deixar a mãe sozinha com suas duas irmãs. No quesito
estudo, Merlin é uma espécie de professor John Keating (Robin Willians) de
Sociedade dos Poetas Mortos, que tenta estimular os alunos a serem mais do que
a aldeia no passado já foi líder dos Longevernes. A atuação de Fred Testot como
o padre Simon, seja projetando filmes na igreja e obstruindo a lente quando há
um beijo na tela ou apitando jogos de futebol e roubando a favor dos
Longevernes também assegura muitas risadas da plateia, bem como a senha que
deve ser repetida pelos integrantes do grupo, que é sempre as três primeiras
letras de uma especialidade ou coisa que o líder gostava ou gosta, ficando
quilométrica quando repetida.
Com pequenas vitórias como
apontar um traidor no bando adversário ou descobrir que os inimigos cometeram
erros de ortografia em pichações ou falar palavras das quais o outro não sabe o
que é, como Culhão Murcho ou Coça Saco, o filme é todo bem tramado aproveitando
atos inocentes, porém marcantes, das crianças. A guerra inocente travada pelos grupos das
duas aldeias dá ao filme o caráter surpreendente e lembra grandes filmes com protagonismo de crianças, como “Conta Comigo”, “Adeus, Meninos" e até o mais recente francês “O
Pequeno Nicolau”. Outra surpresa agradável que vem da França, país com uma produção competente, que não nega a herança de nomes como Abel Gance, George Méliès, Robert Bresson, François Truffaut e Jean-Luc Godard.
A Guerra dos Botões (La Guerre des Boutons)
Direção: Yann Samuell
Roteiro: Yann Samuell,
adaptação do livro homônimo de Louis Pergaud
Elenco: Eric Elmosnino, Mathilde Seigner, Alain Chabat, Fred Testot,
Vincent Bres, Salomé Lemire, Théo Bertrand e Tristan Vichard.
Duração: 1h49 min
País: França
Ano: 2011
Distribuição: Imovision
Crédito de foto: Imovision /
Divulgação
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