A produção independente recebeu quatro indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (para Benh Zeitlin), Melhor Atriz para a atriz, hoje com 9 anos, a mais jovem a receber indicação ao Oscar) – e Roteiro Adaptado por Benh Zeitlin e Lucy Alibar, autora da peça que originou o filme e já conquistou dezenas de prêmios, dos quais os mais destacados são o Camera D´Or e o prêmio da crítica internacional, o Fipresci, no Festival de Berlim 2012, além do Grande Prêmio do Júri e a Melhor Fotografia de Sundance 2012.
O diretor estreante Benh Zeitlin, de apenas 30 anos (cujo pai e avô moraram em São Paulo durante algum tempo), conseguiu fazer um filme extremamente autoral e cativante, em que cada momento de narração em off da protagonista encerra em si um tratado filosófico cotidiano e de reflexões possíveis sobre a natureza e as relações humanas, como esta pérola no início da película filmada em super 16mm: “O universo inteiro depende de tudo se encaixando apenas certo. Se um pedaço rompe, o universo inteiro vai ficar rompido”. Hushpuppy acredita que num equilíbrio do universo com a natureza e que as forças da natureza podem quebrar tudo e nisto segue as crendices e o realismo mágico que emana dos moradores da pequena comunidade de Bathtub (Banheira), que por causa de um dique, será inundada caso vier uma grande tormenta.
As reflexões da menina são o processamento de uma educação quase animalizante que recebe do pai Wink, que possui um grave problema cardíaco, mas luta como um animal para não sair da comunidade e para não ser hospitalizado. "Aqui quando um animal está doente, eles o ligam na parede", reflete a menina sobre os hospitais. Eles vivem em trailes velhos, cheio de lixo e bugigangas e comem frango com as mãos, vivem livres, mas Hushpuppy não tem a mãe para lhe mostrar o lado mais doce da vida, mesmo assim sonha acordado e brinca com o que tem: os animais
Quando a tormenta se prenuncia, a maioria das pessoas da comunidade foge e este universo se desequilibra, pois a água invade Bathtub. A casa deles vira um barco.
Talvez o título original do filme “Beasts On The Southern Wild”, algo como Animais no Sul Selvagem, possa explicar a diferença de mundos de Hushpuppy, seu pais e os moradores de Bathtub, que não querem se render à inundação e à civilização. Em uma cena do filme, o pai da menina diz para eles não comerem com modos, mas que “animalizem”.
Realmente, a vida deles é algo próximo do primitivo, pois eles não querem a civilização e as suas histórias beiram o realismo mágico, quando a menina fala do temor dos auroques, um misto de porcos e javalis gigantes: “Animais fortes não têm misericórdia".
Em outra cena, o pai acossado por problemas cardíacos diz: "Eu tenho que dormir, eu tenho que amanhecer forte". Não há como fugir do conceito de filme épico, pois a jornada de Hushpuppy é para tentar salvar o pai ("Todo mundo perde quem o fez, deveria ser assim na natureza) e também para entender o mundo em que vive: “Vejo que sou um pequeno pedaço de um universo, muito, muito grande e isso faz as coisas certas”. Um filme que é emoção e reflexão durante a 1h32min de projeção. Corra para assisti-lo antes do Oscar.
Crédito das foto: Imagem Filmes / Divulgação
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