Crédito das fotos: Valmir Michelon / Divulgação
Como o rei de Tebas na mitologia grega, chamado de Anfitrião, o escritor gaúcho Altair Martins terá a função de receber e divulgar na 6ª Festa Literária de Porto Alegre os mais de 100 autores de todo o país e demais participantes do evento. O evento será iniciado nesta sexta, às 18h30min, com a Missa para a Igreja do Livro Transformador, com Luiz Ruffato, no Auditório Luís Cosme, da Casa de Cultura Mario Quintana, seguido por mesa com o escritor homenageado Cristovão Tezza, com Altair Martins e Luiz Ruffato, às 19h, no mesmo local.
Nascido em Porto Alegre no ano de 1975, Altair Martins é romancista e contista, cujo primeiro livro publicado foi o de contos "Como se Moesse Ferro" (WS, 1999), mas desde 1994 ele vem acumulando prêmios por sua obra, sendo o primeiro pelo próprio conto "Como se Moesse Ferro", em 1994, com o 1º lugar no Prêmio Guimarães Rosa, concedido pela Radio France Internationale. Os seus dois livros mais recentes, o romance "A Parede no Escuro" (Record 2008) e o de contos "Enquanto Água" (Record, 2011) arrebataram os principais prêmios literários de 2008 para cá. O romance levou o Prêmio São Paulo de Literatura, Livro do Ano no Açorianos de Literatura, além do Destaque Ficção Rede Record e Correio do Povo na 54ª Feira do Livro de Porto Alegre, em 2008. Já a obra de contos foi finalista do Prêmio Jabuti em 2012, vencedora do Livro do Ano do Açorianos e mais recentemente do Prêmio Moacyr Scliar de Literatura, que será entregue segunda-feira, às 14h30min,no Palácio Piratini.
Nesta entrevista concedida a este blogueiro para o Correio do Povo, Altair Martins fala sobre a função de escritor-anfitrião, que, segundo ele, "é algo tão novo que terei de inventar minha participação", além de abordar o escritor homenageado Cristovão Tezza, as premiações e a importância de eventos do porte da FestiPoa Literária.
Pergunta – Das diversas designações e funções que te couberam nesta uma década e meia como escritor atuante, a de anfitrião é algo relativamente novo. Explique-nos como vai ser esta incumbência na FestiPoa Literária.
Altair Martins - Bem, a incumbência do anfitrião é algo tão novo que terei de inventar minha participação. O Fernando Ramos me deixou bem livre para isso. Antes de tudo, penso que o anfitrião tem de ser o escudeiro do homenageado. Por isso, me armei: refiz leituras da obra do Cristovão Tezza. Desde já, estamos a divulgar sua escrita, entre leitores e nos meios de comunicação. Na pré-estreia, por exemplo, uma apresentação dos principais pontos de O espírito da prosa foi mostrada no teatro do SESC. E outras virão no decorrer da programação.
Pergunta – O fato de Cristovão Tezza ser o escritor homenageado, além das indiscutíveis qualidades literárias, parece-nos de suma importância por trazer este dilema entre produção literária e acadêmica, contextualizado pela própria trajetória de Tezza e na obra O Espírito da Prosa. Qual a tua análise desta assertiva?
Altair - Este é um dos pontos de contato entre a minha trajetória e a do Tezza. O escritor-professor (ou seria o contrário?) foi uma das alternativas ao fenômeno do escritor-funcionário público, com uma vantagem: no trabalho, estamos a lidar com a matéria da linguagem, seja prismada na leitura seja na análise crítica e até científica. O aventureiro da palavra acabou dando lugar ao estudioso, e ainda estamos a avaliar os efeitos disso tudo.
Pergunta – A Parede no Escuro e Enquanto Água colheram prêmios significativos no horizonte nacional como o Prêmio São Paulo e o Moacyr Scliar, com universos temáticos, gêneros e formas de narrar distintas. O Altair se reinventa de que forma a cada livro?
Altair - Depois de A Parede no Escuro me senti numa encruzilhada: meu projeto de ser escritor seguiria a trilha aberta pelo romance (os vários narradores entrecruzados) ou eu me reinventaria. Optei pela segunda via. Pretendo (e é bem pretensão) que em cada livro o meus leitores (não são muitos; me leiam por favor) me procurem até reconhecer que estou ali justamente por não estar. Mudar de gênero é sempre um caminho; repensar a própria escrita é outro. Não repito narradores. Não gostaria de repetir livros.
Pergunta – Fale-nos sobre o seu novo projeto. Pelo que sabemos tinha o título de Terra Avulsa e estaria para ser publicado ainda este ano.
Altair - Terra avulsa será defendido no doutorado da UFRGS logo, juntamente com algumas teses sobre o romance contemporâneo, nas quais discuto narrador, espaço, herói, autoria, entre outros temas. O contrato do romance já está assinado. No momento refaço fotos que participam do texto e cuja resolução não serve. O livro passará ainda por algumas revisões. Minha ideia é a de que saia até agosto. Caso contrário, penso em publicá-lo só em 2014. Sou chato e não tenho pressa.
Pergunta – Eventos como o FestiPoa Literária nos fazem exultar pela abrangência e capacidade de debater prementes questões da literatura. Como analisas este tipo de evento?
Altair - A FestiPoa nasceu democraticamente, sob organização desse louco maravilhoso que é o Fernando Ramos, que soube agregar os quixotes do livro gaúcho. No começo, falávamos para nós mesmos. Mas a guerrilha deu efeito: hoje, são convidados nacionais e internacionais, mais de cem, multiplicando atividades que vão da leitura (da formação de leitores), do debate, da apresentação, das oficinas, às performances – uma característica desde a primeira festa. E tudo gratuito, no friozinho de maio, em horário agradável de happy hour (a maioria dos eventos). Serão dez dias maravilhosos.
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