Vou começar pelas cinco melhores peças de teatro de 2013, às quais assisti e que não precisam necessariamente ser as melhores, pois algumas que poderiam melhores, eu não assisti, como é o caso de Medeia Vozes, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz.
Então vamos às cinco melhores do meu ano, que passam por nomes como Bob Wilson, Kike Barbosa, Romeo Castellucci, Miguel Falabella e Patrícia Fagundes:
Crédito: Divulgação
1 - A Dama do Mar
Crédito: Klaus Lefebvre
2 - Sobre o Conceito da Face no Filho de Deus
Três cenas viscerais em 60 minutos, mas parecem horas, tamanha à repetição e o peso de casa gesto da encenação de Romeo Castellucci para a Societas Raffaello Sanzio apresentada no 20º Porto Alegre em Cena. Um velho se esvai em fezes em sofá e móveis totalmente brancos e o filho cuida com uma bondade e angústia. A segunda cena mostra crianças jogando granadas na figura de Jesus Cristo, são minutos que viram horas e finalmente a imagem gigante de Cristo é destruída. O naturalismo das cenas e o simbolismo contido em cada uma delas nos induz a pensamentos mil, alguns relacionados à dificuldade de se atribuir um poder muito grande à figura do Salvador, de Cristo, esta é uma reprodução do quadro do pintor italiano do século XV, Antonello de Messina. É um jogo teatral, mas é um jogo pesado, que questiona o Deus que deixa um pai sofrer e que coloca nas crianças a possibilidade de vingar, de renovar e de questionar filosófica ou ativamente os desígnios de Deus, do cristianismo e da vida como ela é. Tudo isto aliado a uma sonoplastia pesada, dos sons de granada. Um petardo, um soco na nossa cara cristã.
Crédito: Vilmar Carvalho
3 - Pequenas Violências - Silenciosas e Cotidianas
O dramaturgo e diretor Kike Barbosa entrelaça cinco histórias de vidas pequenas e violentas, o possível terrorista, a mulher e o seu cachorro, o homossexual, o desempregado bêbado e a mulher que ama ou deixa, todos unidos por um mesmo prédio e um atropelamento e por outras pequenas violências cotidianas. Tudo isto na penumbra, com lanternas coloridas e o deslocamento pelo escuro, ilusões de ótica e uma trilha atordoantemente bem feita por Paulo Arenhart. As atuações estão todas coesas pelo quinteto formado por Cassiano Ranzolin (postura), Liane Venturella (versatilidade), Janaína Pellizon (presença), Rafael Guerra (limites) e Rodrigo Melo (mergulho). Deve ganhar novas temporadas em 2014 para que o público tenha acesso à doce loucura do dramaturgo Kike e a esta companhia madura e cada vez mais segura, que é a Stravaganza, de Adriane Mottola, que mostrou outra pérola neste ano, a fragmentada e pungente Estremeço.
Crédito: Paula Kossatz
4 - Alô Dolly
Miguel Falabella costuma ter grandes acertos nestas adaptações de musicais da Broadway. No caso de Alô Dolly não foi diferente. O musical tem a sua força na história, que trabalha com aqueles desencontros e armações derivadas da commedia dell arte ou das comédias de erros e ganha força nos dois protagonistas, o encontro até então inédito nos palcos entre Falabella, como Horário Vandergelder, e Marília Pêra como Dolly Levi. Com cenários, figurinos e músicas extremamente bem arranjadas e também aqueles improvisos falabellianos, o caminho estava aberto para a viúva casamenteira dos anos 1890, no estado de Nova York, que é contratada pelo rico e mal-humorado comerciante de Yonkers para lhe arranjar uma esposa na cidade grande, em Nova York. Ela arma o encontro com Irene Molloy (Alessandra Verney), a dona de uma chapelaria, mas após armações e confusões envolvendo os noivos e os empregados dele, na cidade grande e Dolly vai tentar conquistar o bom partido. Dolly tenta casar Ambrósio Kemper com Ermengarda, a sobrinha de Horácio. Os figurinos de Fause Haten são belos e funcionais. São 29 atores em cena, cinco deles bailarinos, além de uma orquestra com 16 integrantes, sob direção musical de Carlos Bauzys, que dão força às interpretações belas de Marília e dos atores-cantores. Os cenários permitem a melhor movimentação cênicas, assinados por Renato Theobaldo e Roberto Rolnik, permeados com a iluminação top do Brasil, do grande Paulo César Medeiros.
Crédito: Mariano Czarnobai / PMPA
5 - Natalício Cavalo
Por fim, chegamos à Natalício Cavalo, o segundo capítulo da Trilogia Festiva, da Cia. Rústica, dirigida por Patrícia Fagundes. A investigação de Patrícia adquire uma grande densidade a cada espetáculo, pois percebe-se a companhia toda mergulhada na pesquisa. Ao tratar da morte de um personagem tão forte, picaresco, imbuído do melhor espírito nativo, gaúcho, o grupo tem um acerto em desconstruir a história e apresentar de forma experimental, muito bem musicalizada, pela arte de Arthur de Faria e pela execução dos atores músicos. Rossendo Rodrigues é um Natalício em prosa, vestido com as roupas e as armas da figura mítica, memorializada pela Rústica. Quando pensamos em qualquer um destes atores em cena, lembramos de pelo menos um ou dois outros grandes trabalhos deles: Heinz Limaverde, Lisandro Belloto, Marcelo Mertins, Marina Mendo, Priscilla Colombi. Os figurinos de Daniel Lion estilizam o gaúcho e o personagem é apresentado em todas as suas nuances, amores, golpes, ameaças de morte e a morte propriamente dita. Um espetáculo para se rever, para atestar cada vez mais a competência desta companhia consolidada que é a Rústica.
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