quinta-feira, janeiro 22, 2009

Ombros Largos


Ombros largos (2ª versão)

Coube-me a tarefa de adoecer o verbo
até confessar minhas entranhas
Não entorpeci a semente,
apenas a distraí de mim
Nesta posse longínqua em que
proliferam as palavras com adubo,
enquanto nego carícias
com minha mão cega
*
Nesta idade apenas carrego sombras
enlouqueço os pronomes em busca de par
Deixo a tampa aberta do sonho, sem olhar
Para o destempero da boca aleatória
Sobrevive a mim, a calma,
Seca superfície da alma
*
Quando há cisco no meu tombo,
enrijecem grilhões em meus ombros
Obra súdita, esta de apaziguar o cílio
No suplicante piscar da falta
ardem as cachoeiras da troca,
quando um pombal arrulha no peito
e sorrisos são distribuídos borbulha
Com frescor de sombra
*
Não degrado a ausência com perguntas
Inconsciente a esmolar à memória
Nuvens de esquecimento pousadas no umbral
Ombro que me ampara
na vulcânica vida que lava e seca
a perda
Língua na nuca do infinito

Luiz Gonzaga Lopes

Um comentário:

Um Lugar Chamado 'Nothing is real' disse...

Quanta intimidade com o Infinito... e alguns ainda dizem não saber como a ele chegar. Deve ser assim... bem de mansinho, vagando... divagando devagar.