Críticas de literatura (textos) e cinema (telona) e também de teatro e música, quando necessário. Artes visuais somente para fruição. Alguma entrevista mais especial também terá vez.
sexta-feira, setembro 10, 2010
Entrevista com Goran Bregovic
O show de Goran Bregovic e sua Weddings and Funerals Orchestra foi um dos cinco melhores do ano, incluindo Metallica, Aerosmith, Amelita Baltar e Simple Minds.
Publico aqui entrevista que fiz com Goran Bregovic no site e na edição impressa do Correio do Povo. O crédito da foto é de Fabiano Amaral
"Fiquei surpreso pois o público
conhecia a minha música"
O bósnio Goran Bregovic, que abre o 17º Porto Alegre em Cena na quarta, lembra com carinho do show de 2001 no Em Cena, em entrevista exclusiva ao CP
Nada melhor do que alguém que foi a sensação de uma das edições do festival (na 8ª edição em 2001), para abrir o 17º Porto Alegre em Cena, que para além da diversidade proposta por Luciano Alabarse e seus curadores, traz grandes grupos ou diretores que se destacaram em edições anteriores da mostra. Uma reafirmação do novo, misturado ao já consagrado, como é o caso dos espetáculos de Sankai Juku (2ª vez): “Tobari”; do diretor lituano Eimuntas Nekrosius (4ª vez) com “O Idiota”; Bob Wilson (2ª vez) com “Happy Days”; além de habituais diretores do Mercosul como o argentino Eduardo Pavlovsky e nacionais como Celso Frateschi e Enrique Diaz.
Goran Bregovic e sua Weddings and Funerals Orchestra (Orquestra de Casamentos e Funerais) abrem o festival, nesta quarta, às 21h no Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 100). O show divulga o seu mais recente CD “Alkohol”, lançado no fim de 2008, e será realizado também na quinta, às 21h, no Bourbon Country. Não há mais ingressos para as duas noites (detalhes no www.poaemcena.com.br ).
O músico e compositor bósnio toca uma mistura entre ritmos tradicionais da música da Sérvia, as populares músicas ciganas para casamentos e funerais, recheadas de arranjos modernos e pop.
O projeto "Alkohol" é composto de dois discos. O primeiro "Sljivovica" foi lançado no fim de 2008 e tem 14 faixas — 13 normais e uma bônus — com destaque para “Jeremija” — onde ele brada antes do início da música o título do disco: Alkohol — “Venzinadiko”, “Gas Gas” e “Na Zandjem Sedistu Moga Auta” (“No Banco de Trás do Meu Carro". O segundo "Champanhe" está sendo produzido e deve ser lançado em 2011.
Bregovic e sua banda formada por mais 18 músicos, entre seis metais ciganos, duas vozes femininas búlgaras, seis vozes masculinas e quarteto de cordas, deve tocar durante 2h30min e recuperar sucessos executados em 2001, como “Mesecina”, “Kalashnikov”, “Ausencia”, “Te Kuravle” e “Ya Ya (Ringe Ringe Raja)”.
Nascido em 22 de março de 1950, em Sarajevo, na Bósnia e Herzegovina, Bregovic tornou-se famoso como líder da banda Bijelo Dugme e como compositor de trilhas sonoras para cinema (destacando-se os trabalhos para filmes de Emir Kusturica como “Underground - Mentiras de Guerra” e “Arizona Dream”, além de “Borat”, de “Sascha Baron Cohen” e “Rainha Margot”, de Patrice Chéreau.
Nesta entrevista exclusiva ao Correio do Povo, Bregovic fala com carinho do show de 2001, da mensagem do disco "Alkohol", dos novos projetos e de World Music.
Correio do Povo - Os seus discos e as suas músicas, trilhas de filmes ou de espetáculos, sempre carregam mensagens contra a guerra e outros temas. Qual a mensagem do disco "Alkohol", de 2009?
Goran Bregovic - O meu álbum “Alkohol” não tem nenhuma mensagem especial, mas como explico no encarte do CD: "Minha mãe se divorciou do meu pai porque, como a maior parte de oficiais, ele bebeu demasiado sljivovica (conhaque típico da Bósnia à base de ameixa) . Depois que ela o abandonou, ele sofreu o tratamento para deixar de beber. Nos 15 anos seguintes, ele não bebeu. Minha mãe morreu da leucemia e a segunda esposa do meu pai disse-me que durante a doença de minha mãe ela o tinha seguido secretamente algumas vezes. Noite após noite meu pai sentava até o amanhecer embaixo das janelas da sala onde minha mãe morria no 3º andar do hospital militar na Divisão para fumar. Então ele voltou à sua aldeia na fronteira húngara e plantou um vinhedo que produzia mil litros por ano. Ele sobreviveu a mãe a vinte anos e bebeu este mil litros mais ou menos sozinhos. Dedico 'Alkohol' aos meus pais".
CP - Você tem alguma lembrança do seu primeiro show em Porto Alegre em 2001?
Goran - Eu me lembro que fiquei surpreso ao ver que havia um grande público para o meu concerto e que eles pareciam conhecer a minha música.
CP - Quais são os seus atuais projetos na música, discos, trilhas para cinema e teatro?
Goran - Acabo de terminar um novo projeto, uma peça para minha grande orquestra e uma atriz intitulou “Margot, as Memórias da Rainha Infeliz”. Ele teve uma première em Paris, na Basilique Saint Denis, em junho deste ano. Estou trabalhando agora na segunda parte do meu álbum “Alkohol”. A primeira parte "Sljivovica" saiu no ano passado e estou editando agora a segunda parte: "Champanhe". E há projetos sempre diferentes – possivelmente uma nova ópera (Goran é autor de óperas como "Karmen de Bregovic") que estão cozinhando lentamente em fogo brando.
CP - Por que a música do Leste Europeu ficou fora do boom da World Music nos anos 80 e agora onde ela estaria inserida?
Goran - É bom que o mundo ficou curioso e tem o interesse em uma cultura musical que é muito pequena em comparação com as grandes como Espanha, Itália, Alemanha e Inglaterra. Eu agradeço a esta curiosidade que fez com que a minha música fosse conhecida em todo o mundo.
CP - Como você define a sua música?
Goran - Sou um compositor contemporâneo que escreve a música com uma estrutura sólida e que não é tediosa – o que é bastante excepcional atualmente. Conservei uma faixa hedonista dos meu temperamento de rock´n´roll. Se escrevo coisas simples de instrumentos infantis ou mais complicados do coro e orquestra, eu sempre tenho divertimento.
CP - Você tem participados de movimentos contra as guerras ou eventos musicais e causas similares?
Goran - Eu estou muito velho agora e demasiado distante dos tempos quando – fora de vaidade – imaginei que a arte podia modificar a ordem de coisas. Mas sou ainda demasiado jovem para perder a esperança!
Luiz Gonzaga Lopes / Correio do Povo
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