quinta-feira, janeiro 03, 2013

Alice na Paris das maravilhas



A fórmula para uma boa comédia romântica parece estar sempre pronta, com uma cidade apaixonante, locais que simbolizam o amor e uma história que relacione a cidade com o romance vivido, um monumento, um café, um bar, um rio, qualquer coisa deste tipo. É preciso dizer que existe um recheio necessário, algo intangível, uma coisa meio Nora Ephron, Rob Reiner, Garry Marshall (só para citar alguns nova-iorquinos da boa safra oitenta-noventista),  ou então Woody Allen. Em "Paris-Manhattan”, a cineasta Sophie Lellouche resolveu apelar para o ingrediente Woody Allen.

Alice Ovitz (personagem vivido pela homônima Alice Taglioni) é uma mulher bonita e apaixonada pelo seu trabalho como farmacêutica. O problema é que a paixão pelo trabalho não é proporcional ao seu interesse pelo parceiro ideal, pelo par romântico. Ela já está sendo chamada de solteirona, está ficando para titia, como dizemos aqui no Brasil. O principal refúgio emocional é o cinema de Woody Allen. Alice conversa com Allen (o voz em off do próprio diretor nova-iorquino que faz uma ponta presencial no filme).
Ela gosta tanto dos filmes e dos ensinamentos contidos em filmes como "Manhattan", "Tudo o que Você Queria Saber Sobre Sexo..." e outros, que chegando ao ponto de transformar a sua farmácia em uma mini-locadora de DVDs, pois prescreve os filmes de Allen para as pessoas que procuram a farmácia para curar os seus problemas.

Nas conversas com Woody Allen, alguns ensinamentos do diretor estão presentes, como um freudiano, de que as duas coisas mais importantes da vida são a escolha da profissão e do sexo ou então: "case e tenha cinco filhos". Por outro lado, Alice ignora os apelos familiares para que se case. Um dia, Victor (Patrick Bruel) aparece em sua vida. Numa das dezenas de festas para a qual é convidada e na qual o pai (Michel Aumont), judeu como Woody Allen,  tenta lhe arranjar um namorado. Victor é especialista em alarmes e é claro que o pai o contrata para instalar um alarme na farmácia de Alice. Ele desenvolveu um alarme diferente, que expele clorofórmio para adormecer o assaltante. Victor é inteligente, irônico e sabe tudo que está passando à sua volta, como descobrir quem trai quem e sua presença masculina a ajudar e ao mesmo tempo incomodar a vida sem sobressaltos de Alice. O seu único defeito para Alice é nunca ter visto um filme de Woody Allen. O seu primeiro é "Tudo o que Você Queria Saber Sobre Sexo (e Tinha Medo de Perguntar)". Ele se espanta com a cena de Gene Wilder com uma ovelha na cama, mas segue vendo os filmes de Woody.

Crédito: Vinny Filmes

O filme nos apresenta alguns signos interessantes de comédias românticas, como casais apaixonados dançando na rua, crianças correndo nas ruas, nos mercados e na própria farmácia, coadjuvantes que roubam a cena como Michel Aumont, como o pai glutão e judeu de Alice, Marie-Christine Adam como a mãe alcoólatra e também a irmã e o cunhado perfeitos (Marine Delterme e Louis-Do de Lencquesaing) e os clientes da farmácia, que apoiam Alice na sua loucura woodyalleniana.

A magia do filme está na vontade de Alice de estar em Nova Iorque, de viver cenas dos filmes de Allen e ao mesmo tempo estar passando por cenários que hipnotizaram Allen quando ele construiu "Meia-Noite em Paris". É difícil comparar a Torre Eiffel com a Estátua de Liberdade (esta construída originalmente em Paris) ou Central Park com o Jardim de Luxemburgo, Hudson com Sena, mas o certo é que Woody Allen traz Nova Iorque para Alice, mas também um pouco do romantismo inteligente, irônico e perspicaz, que a Big Apple proporciona. Mas se não estivermos em Nova Iorque, nós sempre teremos Paris, como Ricky (Humphrey Bogart) já disse a Ilsa (Ingrid Bergman), que foi tão bem parodiada por Allen em "Sonhos de um Sedutor" ("Play it Again, Sam"). A aparição de Allen no filme é para falar da importância de uma das pessoas envolvidas na história.

O detalhe de produção do filme é que a cineasta Sophie Lellouche sempre foi obcecada por Woody Allen e  que havia dirigido apenas o curta "Dieu, que la nature est bien faite!", em 1999, passou algum tempo tentando encontros marcados ou ocasionais com o diretor de "Meia-Noite em Paris", até que ele concordou em fazer esta ponta no filme. Uma comédia romântica de boa qualidade para começar bem o 2013

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