domingo, janeiro 06, 2013

Unidas por um mesmo amor




Tudo o que se diz sobre o cinema argentino é que ele produz mais filmes bons do que ruins. Isto está correto. Enquanto o Brasil busca as bilheterias com comédias sem qualquer sentido, tipo "E aí, Comeu?" ou "Os Penetras", a Argentina tem buscado a bilheteria em temas cômicos, trágicos ou tragicômicos. Não há aí qualquer comparação, pois os grandes filmes brasileiros, no sentido arte e não bilheteria, quase não tem mercado fora dos festivais. Já os filmes argentinos que aqui chegam são sempre acima da média. Mas para que este papo todo, senão para dizer que "Viúvas", de Marcos Carnevale, é um destes filmes. 

A sutileza do diretor em tratar um tema banal, quase cotidiano, mas que tem uma certa mágica. A diretora de documentários Elena (a extraordinária diva argentina Graciela Borges) é avisada no set de filmagem que o marido Augusto sofreu um infarto. Ao chegar ao hospital com a amiga, assistente e durona produtora Esther (a impagável Rita Cortese), uma outra mulher, Adela (a segunda no meu ranking de atrizes argentinas, Valeria Bertucelli, que só perde para a Soledad Villamil), está zelando pelo marido infartado. No leito de morte, Augusto pede o impossível a Elena, que cuide de Adela, "pois ela não tem ninguém". 
  
O tom do filme a partir daí está instaurado. Adela vai tentar se aproximar de Elena, que a rejeita, mas depois acaba cedendo e tentando tratá-la como uma filha. Adela é aquele tipo garota interrompida, fruto de uma geração desesperançada, que faz tudo e nada, e não termina consegue terminar o curso de comunicação e nem manter o emprego como repórter de trânsito de uma rádio de Buenos Aires. Carnevale fotografa muito bem a Buenos Aires, alternando a câmera entre o mundo abastado de Elena e o mundo pobre de Adela, que mora num apartamento que era pago por Augusto no bairro chinês da capital argentina. 


Foto: Imovision

O drama se intensifica quando Adela tenta se suicidar e vai morar com Elena. Mais não posso contar, mas na casa de Elena vemos um personagem sui generis que é a empregada Justina (o debut cinematográfico do hilário Martín Bossi), um homem que trocou de sexo. Ela é fiel ao patrão, pois trabalha desde adolescente com o casal e também muito sincera, não se dobrando diante de Elena. A cara séria de negação quando Elena a manda fazer uma coisa e a fala em guarani quando não quer que a patroa saiba sobre uma conversa com um familiar dão o tom cômico de "Viúvas". 

O filme aborda de forma quase realista o drama de duas mulheres que amaram o mesmo homem e acaba falando de amor e não da traição, porque o amor é maior. Mesmo revoltada e triste com a traição de Augusto, quando perguntada sobre o que lembrava dele, Elena diz: "Ele era um cavalheiro, um homem que me dava segurança, que fazia eu me sentir bem, amada". Isto resume um filme que não julga a traição, mas que trata das consequências da infidelidade e do amor que ultrapassa as barreiras morais e sociais. Não por acaso, o documentário que Elena está concluindo "Chicas", trata de mulheres infelizes no amor. Mais um filme argentino acima da média. Que bom que as nossas distribuidoras, como a Imovision, estão atentas a estes lançamentos.

Nenhum comentário: