Críticas de literatura (textos) e cinema (telona) e também de teatro e música, quando necessário. Artes visuais somente para fruição. Alguma entrevista mais especial também terá vez.
quinta-feira, janeiro 10, 2013
JUSTIÇA ATÉ O FIM
Bem-vindo mais uma vez monsieur Philippe Lioret, que já havia nos brindado com um filme "Bem-Vindo", que mescla drama pessoal com situação política, e que agora nos traz o drama pessoal, jurídico e econômico "Tudo o que Desejamos" que entra em cartaz nesta sexta, no Guion Center, em Porto Alegre. Novamente em parceria com o roteirista Emmanuel Corcol e com o ator Vincent Lindon, Lioret resolveu adaptar o livro "Outras Vidas que nâo a Minha", do aclamado escritor francês Emmanuel Carrère, que esteve na Flip, em Paraty, em 2011. A trama começa trágica, mas caminha para a redenção ou sublimação na vida da personagem Claire (Marie Gillain), uma jovem e idealista juíza de Lyon, na França, que tem por opção aplicar a lei para defender os menos abastados da gana de grandes corporações. No caso abordado no livro e também no filme, Claire vai julgar o caso da mãe de uma amiguinha da sua filha, que tem dívidas com financeiras. O drama financeiro e jurídico passa para o pessoal, quando Claire descobre um glioblastoma, um tumor cerebral agressivo, que se alastra e mata em poucos meses.
A cruzada contra as financeiras será a última causa da vida de Claire, a justiça levada até o fim e eis que ela é indicada a um juiz veterano Stéphane (Vincent Lindon), que é um especialista no tema, além de ser técnico de rúgbi nas horas vagas. Deste elo entre estes dois personagens, que gravitam paralelamente aos seus respectivos marido e mulher, é que o filme ganha a força da luta por uma causa, das interpretações fortes da juíza que está morrendo e do juiz durão que se enternece pela jovem juíza, mas não sexualmente falando, mas pela luta, pelo idealismo há muito perdido. Lindon já havia vivido um técnico de natação, que ajuda o menino curdo a atravessar o Canal da Mancha, em busca de familiares em "Bem-Vindo".
O detalhe que pode passar despercebido num filme tão dramático não é a trilha, mas sim o som do filme. Philippe Lioret antes de ser roteirista e diretor foi engenheiro de som de filmes como "Uma Leitora Bem Particular" e "Romuald e Juliette". A captação de som casa magnificamente com o clima proposto por Lioret deixando o espectador identificado e ao mesmo confrontado com suas próprias mazelas, com suas dívidas, com a iminência da morte e da perda de entes queridos, quando o aflora este sentimento no marido de Claire, Christophe (Yannick Renier), e na mãe da amiga da sua filha, Céline (Armandine Dewasmes). A inclusão na trilha e na história da música ""On Saturday Afternoons in 1963", de Rickie Lee Jones, é mais outro elo interessante da história, pois aproxima os dois protagonistas e quebra as diferenças de geração entre eles. Um belo filme triste, pois a tristeza não é de todo ruim, quando se há uma causa a ganhar, quando se tenta levar a justiça até o fim.
Foto: Guy Ferrandis
TUDO O QUE DESEJAMOS
(TOUTES NOS ENVIES/FRANÇA/ 2011/ 120 MIN/ 12 ANOS
Direção: PHILIPPE LIORET
Roteiro: PHILIPPE LIORET, EMMANUEL COURCOL baseado no romance de EMMANUEL CARRÈRE
Fotografia: GILLES HENRY
Edição: ANDRÉA SEDLACKOVA
Música: FLEMMING NORDKROG
Elenco:
VINCENT LINDON (Stéphane),
MARIE GILLAIN (Claire),
AMANDINE DEWASMES (Céline),
YANNICK RENIER (Christophe)
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Um comentário:
Um filme niilista.
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