As comédias românticas possuem estruturas
arquetípicas que todos nós conhecemos e quando nos deparamos com a formula de
sempre, o efeito é sempre bom, um mais do mesmo que agrada. Porém, quando a
estrutura convencional é subvertida ou pervertida, conforme o depoimento da
atriz, roteirista e produtora Rashida Jones, aí o resultado pode ser
surpreendente, inteligente, refrescante, para usar uma palavra em voga na
crítica norte-americana. Estou falando de Celeste e Jesse para Sempre, filme
dirigido por Lee Toland Krieger, a partir de roteiro escrito a quatro mãos por
Rashida Jones (filha de Quincy Jones) e Will McCormack, também ator e produtor
da obra, amigos de longa data. O resultado é uma comédia romantica indie, que
lembra muito alguns filmes dos anos 80, tipo A Garota de Rosa Shocking , por
causa da trilha que vai Suzanne Kraft a Lily Allen, ou Harry & Sally –
Feitos um Para o Outro, por causa do roteiro criativo e dos diálogos
inteligentes.
A ideia da dupla de roteiristas era exatamente
tratar de um jovem casal, que cresceu junto e que se considera o melhor amigo
um do outro, mas que aos 30 anos resolveu se divorciar e não quer perder esta
amizade. Uma comédia sobre a desilusão é como Rashida e Will definem. Rashida é
Celeste, sócia de uma empresa de mídia e tendências em Los Angeles, e Andy
Samberg é Jesse (não confunda com o seu personagem anterior, o Eisenberg do
Facebook, em A Rede Social), um artista gráfico meio desligadão que leva a vida
na base do surf e do grupo de amigos, que não apressa a vida. Isto incomoda
Celeste, que já tem uma vida estabelecida.
O filme inicia do ponto de vista do casal que está
há seis meses separado e encaminhando os papéis do divórcio, mas que faz todas
as coisas junto. O pequeno ponto de virada inicial do filme é quando o casal de
melhores amigos Beth (Ary Grainor) e Tucker (Eric Christian Olsen) resolve dar
a real e dizer que é insano eles estarem separados e comportarem-se como almas
gêmeas, isto numa cena em que eles imitam um casal com sotaque inglês, mas em outros
momentos eles mostram esta cumplicidade extrema como quando eles pegam uma
bisnaga de creme, pomada ou maionese e simulam uma masturbação.
Sem querer criar um spoiler ou contar o que vai
acontecer no filme, o interessante da discussão suscitada pelo filme é
exatamente este rumo à maturidade, este desligamento do amor iniciado entre a
infância e adolescência, o querer ser grande, como diria aquele filme
protagonizado por Tom Hanks. Os amigos de ambos os aconselham a conhecer outras
pessoas e Jesse sai na frente conhecendo uma bailarina chamada Veronica
(Rebecca Dayan). Como Celeste quis a separação, esta notícia o deixa arrasada.
Numa aula de yoga, ela conhece o analista financeiro Paul (Chris Messina) e
tenta acertar no amor.
Com coadjuvantes de luxo, como o próprio Will McCormack
que é Skillz, um traficante de drogas leves; Elijah Wood, como Scott, o amigo gay de Celeste, e Emma Roberts, como Riley
Banks, uma pop star supostamente descerebrada, o filme discute o ocaso dos
relacionamentos e chegada da maturidade verdadeira, mas também a indústria da música,
do marketing, como quando um logo de Riley Banks tem uma interpretação
sexualizada, entre outros tantos temas desta geração dos 30 anos, mas que se
aplica aos quarentões e cinquentões antenados. Uma comédia romântica
interessante, com a fórmula que se aproxima mais do real do que do happy ending
e que trata de forma leve, e ao mesmo tempo séria, do tema da separação.
Créditos das fotos: Paris Filmes
CELESTE E JESSE PARA SEMPRE
Realizado por LEE TOLAND KRIEGER
Escrito Por RASHIDA JONES e WILL
MCCORMACK
Musica
SUNNY
LEVINE e ZACH COWIE
Fotografia DAVID LANZENBERG
Montagem YANA GORSKAYA
Estrelando RASHIDA
JONES, ANDY SAMBERG, CHRIS MESSINA, ARI GRAYNOR, WILL MCCORMACK, EMMA
ROBERTS E ELIJAH WOOD
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