quinta-feira, janeiro 31, 2013

Os amantes do círculo bipolar




Como o agradável Juno já havia sido no Oscar 2008 aquele filme simpático com bom roteiro e muitas nominações (quatro), inclusive diretor e filme, o miss simpatia da vez é O Lado Bom da Vida, filme dirigido por David O. Russell (Três Reis e Procurando Encrenca), com roteiro adaptado pelo próprio diretor, a partir do livro homônimo (Silver Linings Playbook no original), de Matthew Quick. A empatia pelo filme rendeu a obra oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Diretor, Roteiro Adaptado, Montagem e também as nominações de atuação para Ator e Atriz aos protagonistas Bradley Cooper e Jennifer Lawrence e de Coadjuvantes para Robert de Niro (recuperando um pouco o seu way of act) e Jacki Weaver. Pode não levar nenhuma estatueta, mas será mesmo assim o filme que podemos ver tranquilamente, sem chamarmos de óbvio, meia boca ou sessão de tarde (os clichês dos clichês da crítica)

Para começar a traçar um apanhado crítico do filme, já digo que ele me pegou por motivos um tanto óbvios, como química entre os protagonistas e coadjuvantes, as tão amadas referências pop e cult, os elementos reais e simbólicos e o tema da bipolaridade (como leitura adicional sempre recomendo o livro Temperamento Forte, de Diogo Lara) que sempre é interessante num mundo onde 10% das pessoas são diagnosticados com a, digamos, enfermidade contemporânea. Haveria outros motivos, mas vou ficar nestes. Bom, vamos então à história e ao que eu gostei e não gostei do filme, cujo gênero seria a comédia romântica.



Como todo filme adaptado de livro começa e encerra com uma narração em off exaltando os domingos. O personagem Pat Solatano Jr.  (Bradley Cooper) sempre gostou do dia, pois a sua vida sempre foi marcada pelo futebol americano. O pai Patrizio (Robert de Niro) é um torcedor fanático dos Eagles da Philadelphia, paixão que passou para os filhos Pat e Jake (Shea Wigham). Este extravasar com o futebol se aplica na vida de Pat pai e também de Pat filho. O pai tem Transtorno Obsessivo Compulsivo e foi impedido de frequentar o estádio dos Eagles por uma briga. O filho, por sua vez, era bipolar, mas o seu diagnóstico só se confirmou quando ele quebrou a cara do amante da sua mulher Nikki (Brea Bee), quando eles transaram no chuveiro ao som da música do seu casamento: “My Cherie Amour”, de Stevie Wonder.

Sem ser profundo, o filme trata da reconstrução da vida de Pat, que passa oito meses preso em uma instituição psiquiátrica forense. Quando ele sai, tenta reconstruir a sua vida, mas passa a ter a obsessão em refazer o seu casamento. Aí começa a entrar toda a organicidade e a simpatia do filme, fora as referências. Numa das primeiras cenas do filme, ele acaba de ler Adeus às Armas, de Ernest Hemingway e invade o quarto dos pais injuriado pela morte da personagem Catherine quando tudo indicava que o livro teria um final feliz. Ele quer entender Nikki, que é professora de literatura inglesa.



Tudo muda no filme e nos níveis de atuação quando entra em cena a atriz Jennifer Lawrence, como a desajustada cunhada de seu melhor amigo Ronnie (John Ortiz), irmã de Verônica (a sub-aproveitada Julia Stiles). Desde o primeiro instante, a química dos atores e dos personagens fica evidente e o caminho para a reconstrução de ambos está traçado. Ao som de White Stripes, Led Zeppelin, Frank Sinatra, Bob Dylan & Johnny Cash, o filme vai ganhando corpo e os dois atores dão a intensidade necessária para que o romântico da comédia se estabeleça e o humor seja sustentado pelos coadjuvantes, com a lista engrossada pelo impagável Chris Tucker, como um divertido colega com distúrbios mentais.



Um filme que trata de um tema sério como a bipolaridade, um pouco superficialmente, que traz também a dança entra como elemento agregador, discute o amor em família e que traz o tema do fanatismo e das apostas para o viés cômico. Quando o assunto é dança, emociona o elo da cumplicidade e da construção de um sentimento pela dança (pinta um clima de Dirty Dancing) e principalmente a cena em que eles repetem os passos de Gene Kelly e Donald O´Connor no melhor musical de todos os tempos, Cantando na Chuva. Um filme para amantes de filmes, para amantes bipolares ou para quem só queira diversão. Pode não levar nenhuma estatueta contra gigantes como Os Miseráveis, Lincoln, Argo e Django Livre, mas vai agradar ao público, isto lá eu garanto.

Crédito de fotos: Paris Filmes / Divulgação



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