Como o
agradável Juno já havia sido no Oscar 2008 aquele filme simpático com bom
roteiro e muitas nominações (quatro), inclusive diretor e filme, o miss
simpatia da vez é O Lado Bom da Vida, filme dirigido por David O. Russell (Três
Reis e Procurando Encrenca), com roteiro adaptado pelo próprio diretor, a
partir do livro homônimo (Silver Linings Playbook no original), de Matthew
Quick. A empatia pelo filme rendeu a obra oito indicações ao Oscar, incluindo
Melhor Filme, Diretor, Roteiro Adaptado, Montagem e também as nominações de
atuação para Ator e Atriz aos protagonistas Bradley Cooper e Jennifer Lawrence
e de Coadjuvantes para Robert de Niro (recuperando um pouco o seu way of act) e
Jacki Weaver. Pode não levar nenhuma estatueta, mas será mesmo assim o filme
que podemos ver tranquilamente, sem chamarmos de óbvio, meia boca ou sessão de
tarde (os clichês dos clichês da crítica)
Para
começar a traçar um apanhado crítico do filme, já digo que ele me pegou por
motivos um tanto óbvios, como química entre os protagonistas e coadjuvantes, as
tão amadas referências pop e cult, os elementos reais e simbólicos e o tema da
bipolaridade (como leitura adicional sempre recomendo o livro Temperamento
Forte, de Diogo Lara) que sempre é interessante num mundo onde 10% das pessoas
são diagnosticados com a, digamos, enfermidade contemporânea. Haveria outros
motivos, mas vou ficar nestes. Bom, vamos então à história e ao que eu gostei e
não gostei do filme, cujo gênero seria a comédia romântica.
Como todo
filme adaptado de livro começa e encerra com uma narração em off exaltando os
domingos. O personagem Pat Solatano Jr.
(Bradley Cooper) sempre gostou do dia, pois a sua vida sempre foi
marcada pelo futebol americano. O pai Patrizio (Robert de Niro) é um torcedor
fanático dos Eagles da Philadelphia, paixão que passou para os filhos Pat e
Jake (Shea Wigham). Este extravasar com o futebol se aplica na vida de Pat pai
e também de Pat filho. O pai tem Transtorno Obsessivo Compulsivo e foi impedido
de frequentar o estádio dos Eagles por uma briga. O filho, por sua vez, era
bipolar, mas o seu diagnóstico só se confirmou quando ele quebrou a cara do
amante da sua mulher Nikki (Brea Bee), quando eles transaram no chuveiro ao som
da música do seu casamento: “My Cherie Amour”, de Stevie Wonder.
Sem ser
profundo, o filme trata da reconstrução da vida de Pat, que passa oito meses
preso em uma instituição psiquiátrica forense. Quando ele sai, tenta
reconstruir a sua vida, mas passa a ter a obsessão em refazer o seu casamento. Aí
começa a entrar toda a organicidade e a simpatia do filme, fora as referências.
Numa das primeiras cenas do filme, ele acaba de ler Adeus às Armas, de Ernest
Hemingway e invade o quarto dos pais injuriado pela morte da personagem
Catherine quando tudo indicava que o livro teria um final feliz. Ele quer
entender Nikki, que é professora de literatura inglesa.
Tudo muda
no filme e nos níveis de atuação quando entra em cena a atriz Jennifer
Lawrence, como a desajustada cunhada de seu melhor amigo Ronnie (John Ortiz),
irmã de Verônica (a sub-aproveitada Julia Stiles). Desde o primeiro instante, a
química dos atores e dos personagens fica evidente e o caminho para a
reconstrução de ambos está traçado. Ao som de White Stripes, Led Zeppelin,
Frank Sinatra, Bob Dylan & Johnny Cash, o filme vai ganhando corpo e os
dois atores dão a intensidade necessária para que o romântico da comédia se
estabeleça e o humor seja sustentado pelos coadjuvantes, com a lista engrossada
pelo impagável Chris Tucker, como um divertido colega com distúrbios mentais.
Um filme
que trata de um tema sério como a bipolaridade, um pouco superficialmente, que
traz também a dança entra como elemento agregador, discute o amor em família e
que traz o tema do fanatismo e das apostas para o viés cômico. Quando o assunto
é dança, emociona o elo da cumplicidade e da construção de um sentimento pela
dança (pinta um clima de Dirty Dancing) e principalmente a cena em que eles
repetem os passos de Gene Kelly e Donald O´Connor no melhor musical de todos os
tempos, Cantando na Chuva. Um filme para amantes de filmes, para amantes
bipolares ou para quem só queira diversão. Pode não levar nenhuma estatueta
contra gigantes como Os Miseráveis, Lincoln, Argo e Django Livre, mas vai
agradar ao público, isto lá eu garanto.
Crédito
de fotos: Paris Filmes / Divulgação
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