sábado, fevereiro 23, 2013

NOVE FILMES E UM DESTINO





Nove filmes disputam o obscuro objeto do desejo de toda a produção cinematográfica o Oscar de Melhor Filme produzido e exibido em 2012 no mercado norte-americano. Desde que começou esta seleção mais abrangente, passando dos tradicionais cinco para os nove ou dez filmes nunca houve consenso e muitos filmes medianos acabaram entrando na lista e grandes obras cinematográficas foram preteridas desta categoria, a principal, o foco de todas as atenções.

Neste ano, está tão claro como a fotografia de um filme de Wim Wenders que a abrangência da lista de nove filmes desconsiderou alguns filmes que poderiam figurar no status e na nominação de Melhor Filme. O exemplo mais crasso disto foi “O Mestre”, de Paul Thomas Anderson, alijado da categoria principal e nominado somente em prêmios de atuação, apesar do brilhantismo da obra de PTA como realização e como roteiro. Obras como Hitchcock e Anna Karenina, que ainda não estrearam no Brasil, mereciam melhor sorte e talvez a indicação na categoria principal no lugar dos dispensáveis A Hora Mais Escura e Os Miseráveis.

Para abordar a categoria Melhor Filme e dar início às 24 horas pré-Oscar, vou fazer uma pequena análise, não mais que três ou quatro linhas sobre cada filme indicado e externar a minha opinião crítica sobre os nove filmes e um destino: a estatueta dos sonhos de todo o profissional envolvido com cinema no mundo. Minha torcida é pela ordem para Argo, Django Livre, Indomável Sonhadora e Amor.

ANÁLISE DOS INDICADOS A MELHOR FILME



ARGO – Grande candidato à conquista do Oscar. Ben Affleck conseguiu neste filme dar o tom realista e o ritmo necessários para contar a história de um grupo de agentes da CIA que se faz passar por produtores de cinema, que irão filmar a ficção científica “Argo” para retirarem seis funcionários da embaixada americana que estão impedidos de sair do Irã nos anos 70. Um grande filme, sério, e com uma fotografia que recria muito bem o clima dos anos 70. Favoritaço.




AMOR – Uma das mais contundentes histórias de amor e dor já filmadas. O austríaco Michael Haneke, com a sua capacidade de mergulhar no mais profundo do ser humano, obteve dos seus protagonistas Emmanuele Riva e Jean-Louis Trintignant o máximo de dramaticidade. A história por si só nos conduz para os labirintos do amor e da finitude, quando Rose tem dois derrames consecutivos e fica em estado vegetativo. Seria candidato, mas a academia não deve premiar um estrangeiro.


DJANGO LIVRE – Quando o dentista/caçador de recompensas gasta toda a sua verborragia para explicar por que precisa do escravo Django para os irmãos Speck ou quando um atrapalhado esboço de Ku Klux Klan tenta emboscá-los ou ainda quando Django vai buscar a sua Broomhilde, como o herói da ópera de Wagner. Em todos estes contextos, Quentin Tarantino é um gênio do roteiro e os seus filmes são uma aula de cinema. Django (Jamie Foxx) quer sua vingança, Schultz (Christoph Waltz) o ajuda a tentar resgatar Broomhilde do plantador de algodão e entusiasta de lutas de mandingos, Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). O banho de sangue que virá, esguichando à maneira thrash, a mira certeira do pistoleiro, os diálogos cheios de alternativas, com um elenco recheado de ótimos atores. Digo tudo isto para dizer que não seria surpresa se Django Livre conquistasse o Oscar de Melhor Filme, mas a Academia precisaria ter coragem, pois o meu prêmio de Diretor seria para Tarantino, mas ele não foi indicado, assim como Paul Thomas Anderson.




INDOMÁVEL SONHADORA – Este filme seria o meu favorito afetivo para a conquista do Oscar, pois pede um coração aberto ao espectador, que se deixe levar pela emoção para acompanhar o universo da pequena Hushpuppy (interpretada pela pequena Quvenzhane Wallis) que extrai reflexões filosóficas acreditando num universo em equilíbrio entre a natureza e os seres vivos – humanos e animais, na mesma Louisiana, sempre receosa de que uma nova tempestade inunde tudo. Um filme que alterna realismo mágico e social e que pega pelo coração. Pode levar prêmio de consolação para roteiro adaptado.


LINCOLN – Quando me acusam de não gostar de Steven Spielberg, eu digo que ele faz um filme que eu gosto e outro que eu não gosto. Este é o que eu não gosto. Mesmo com certo favoritismo a conquistar Melhor Filme junto com Argo, é um bom filme quando o assunto é a política e o direito na questão da aprovação da 13ª emenda da Constituição dos EUA e também quando falamos do gigante em cena, Daniel Day-Lewis, favorito junto com Joaquin Phoenix para o prêmio de ator. Quando falamos de cinema, de narrativa, o filme se torna aborrecido, com uma primeira parte que tenta ser didática e não consegue, mostrando Spielberg tentando algo em uma área na qual não domina, uma narrativa bem calcada no real, mas enfim ainda é um bom filme.





O LADO BOM DA VIDA – Eu escolhi este filme de David O. Russell como o Miss Simpatia do Oscar. Todos o acham bonitinho, mas não vai levar nada de Los Angeles. Trata de uma forma séria e ao mesmo tempo bem-humorada da questão da bipolaridade. Claro que Russell segue a cartilha proposta pelo livro de Matthew Quick. As atuações do quarteto principal, Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert de Niro e Jacki Weaver dão o corpus preciso à obra, além das referências literárias e musicais a caras como Ernest Hemingway e Stevie Wonder.




AS AVENTURAS DE PI – Um filme bom. Um diretor bom: Ang Lee. Uma boa história. Dezenas de efeitos visuais e a magia do 3D bem explorado. Com isto, poderia dizer que o filme tem alguma chance de ganhar o Oscar. A narrativa explora aquele desgastado flashback de Piscine Patel contando a sua história a alguém no presente. A aventura é incrível. Sobreviver meses num bote com um tigre. É uma história de amizade e respeito. Acho que tem chance com os prêmios de efeitos, som e desenho de produção.



OS MISERÁVEIS – A despeito da cena inicial quando Jean Valjean (Hugh Jackman) precisa carregar sozinho o mastro com a bandeira da França e o resultado fantástico da voz de Anne Hathaway em “I´ve Dreamed a Dream”, o que o diretor Tom Hooper conseguiu com este filme foi apenas a tentativa de trazer o musical baseado em Victor Hugo para as telas, com alguns lampejos de grande filme e um resultado geral abaixo da média. Pode ganhar o Oscar de Canção Original para “Suddenly”.


A HORA MAIS ESCURA – Este mais recente filme da oscarizada com “Guerra ao Terror”, Kathryn Bigelow, poderia ter sido deixado da nominação a Melhor Filme com toda a certeza. É um filme menor. Para mim se alçaria ao posto de telefilme. Não há a mínima tensão na obra. Apesar das cenas de tortura e de algumas partes da investigação do paradeiro de Bin Laden serem impactantes, as 2h37min acabam sendo um rosário enorme para contar os 10 anos de investigação para chegar ao líder do Al-Qaeda, morto no Paquistão em maio de 2011. Jessica Chastain está irreconhecível, comedida demais, sem as qualidades que a fizeram brilhar em Arvore da Vida e Histórias Cruzadas, como a capacidade expressiva e dramática, por exemplo. Não merece nenhum prêmio. Talvez ganhe o de Roteiro Original para Mark Boal.






Um comentário:

Anônimo disse...

Bah, Gonzaga, não concordo contigo em relação ao "A Hora Mais Escura". Achei um grande filme, bem resolvido em termos de roteiro, deixando de lado o blá-blá-blá e só colocando na tela o que interessa daquela história eachei a Jessica Chastain maravilhosa.Comedida quando necessário e emotiva quando o momento pedia. Mas, por outro lado, concordo totaqlmente contigo quando dizes que "O mestre" foi injustiçado. É o segundo melhor filme do ano, até agora. Só perde pro "Amor", porque ganhar deste não é fácil. Grande abraço do teu amigo Paulo Moreira.