sexta-feira, março 01, 2013

O mestre e sua "Psicose"




Antes de poder fazer uma crítica isenta, não contaminada pelo fascínio que nutro pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock, é necessário dizer que "Hitchcock" é uma história a ser contada. Com erros e acertos, este seria um filme necessário para cinematografia mundial. Disto isto, podemos partir para a análise do filme que ao contar uma parte da história do cineasta, acerta na escolha do ator. Anthony Hopkins se entrega de corpo e alma ao papel, apesar de a caracterização e maquiagem estar um pouquinho equivocada, compondo um Hitchcock mais para risível do que para suspense.  É no riso e em tentar mimetizar o efeito que Hitch exercia sobre as pessoas é que o diretor Sasha Gervasi (roteirista do filme “O Terminal”) centrou o seu trabalho, além de nos colocar dentro do clima do set de toda a concepção de um dos maiores clássicos da filmografia do cineasta, “Psicose”.

O roteiro de John McLaughlin (o mesmo de “Cisne Negro”) para “Hitchcock" é pontuado de diálogos que gostaríamos de ter presenciado, entre Hitch e Janet Leigh (a sempre desconcertante Scarlett Johansson), Anthony Perkins (James D´Arcy) e também com o diretor de classificação de censura americana, Geoffrey Shurlock (Kurtwood Smith) e também com o executivo da Paramount, Barney Balaban (Richard Portnow), mas principalmente sobre a sua cara metade, Alma Reville (uma cada vez melhor Helen Mirren) que teve sua vida (como muitas das mulheres de grandes nomes da arte) um pouco eclipsada pelo culto ao gênio e também uma certa inveja que Hitch tinha de outros diretores e das pessoas do meio artístico.



O filme mostra claramente as obsessões do diretor, sua busca pela loira misteriosa, a persecução a uma história diferente e inquietante. Na construção da narrativa, o diretor pontua as ações de Hitch com algumas conversas imaginárias e sonhos com o próprio Ed Gein (Michael Wincott), o autor do crime que inspirou o livro Psicose, que cai nas mãos de Hitchcock após pesadas críticas da imprensa. Ele próprio havia sofrido críticas pesadas, mesmo após o sucesso de “Intriga Internacional”, que na época era o seu mais recente filme, abrindo aquele famoso buraco, aquela crise do diretor em busca de algo que o inquietasse.

O drama psicológico está bem estabelecido na coesão e dualidade entre a vida pessoal e profissional de Hitch com a esposa Alma Reville, no vício da bebida, na compulsão por comida, no empenho das suas próprias finanças para dar vida ao filme, já que os estúdios duvidaram do potencial de “Psicose”. “Eles sempre querem que eu faça o mesmo filme”, diz Hitch (Hopkins) em um determinado momento do filme a seu agente. A base para o filme está no livro de Stephen Rebello: “Alfred Hitchcock and the Making of Psycho”.



“Psicose” realmente sofreu uma rejeição prévia, mas o gênio se destacava e insistia na história de Norman Bates, o homem que desenterrou a mãe e virou um assassino serial.  A principal reclamação prévia da Censura era quanto à violência, nudez e insinuações  sexuais.  Numa das principais cenas do filme, Hitchcock está furioso com a sua vida pessoal, por achar que Alma o está traindo com um roteirista, Whitfield Cook (Danny Huston), e não está contente com os gritos de Janet Leigh como Marion em “Psicose” na famosa cena do chuveiro. Assim, ele mesmo empunha a faca e ela grita com o que parece ser um medo real. Foi realmente um presente de Sasha Gervasi nos mostrar como poderiam ser os bastidores deste filme que tanto preenche o nosso imaginário.

No elenco, temos outros grandes atores, como Jessica Biel, que vive Vera Miles - outra das obsessões de Hitch que passa para o segundo time das suas atrizes por ter ficado grávida durante uma das suas produções –; Toni Collette, como a secretária de Hitch, Peggy Robertson; Ralph Macchio, o karatê kid faz o papel do roteirista do filme, Joseph Stefano; e Michael Stuhlbarg como o agente de Hitch. Um filme que em certos momentos nos dá aquele clima da série para a tevê, Alfred Hitchcock Presents, com Hitch aparecendo de terno preto no canto escuro da sua própria casa e causando susto na própria mulher Alma, mas que nos brinda com a possibilidade de imaginar como teriam sido os bastidores da vida de Hitch e das filmagens do clássico “Psicose”, inclusive com o momento em que é gerada a trilha para a cena do chuveiro, a montagem do filme e a impressão que a cena causou no público da época.



HITCHCOCK
(HITCHCOCK/ EUA/ 2012/ DRAMA/ 99 MIN/ 12 ANOS)
Direção:SACHA GERVASI
Trilha sonora: DANNY ELFMAN
Roteiro: JOHN J. MCLAUGHLIN
Elenco:
ANTHONY HOPKINS como Alfred Hitchcock
HELEN MIRREN como Alma Reville
SCARLETT JOHANSSON como Janet Leigh
TONI COLLETTE como Peggy Robertson
DANNY HUSTON como Whitfield Cook
JESSICA BIEL como Vera Miles
JAMES D'ARCY como Anthony Perkins
MICHAEL STUHLBARG como Lew Wasserman
RALPH MACCHIO como Joseph Stefano
KURTWOOK SMITH como Geoffrey Shurlock
MICHAEL WINCOTT como Ed Gein
RICHARD PORTNOW como Barney Balaban
WALLACE LANGHAM como Saul Bass

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