Antes de poder fazer uma
crítica isenta, não contaminada pelo fascínio que nutro pelo mestre do suspense
Alfred Hitchcock, é necessário dizer que "Hitchcock" é uma história a
ser contada. Com erros e acertos, este seria um filme necessário para
cinematografia mundial. Disto isto, podemos partir para a análise do filme que
ao contar uma parte da história do cineasta, acerta na escolha do ator. Anthony
Hopkins se entrega de corpo e alma ao papel, apesar de a caracterização e
maquiagem estar um pouquinho equivocada, compondo um Hitchcock mais para
risível do que para suspense. É no riso
e em tentar mimetizar o efeito que Hitch exercia sobre as pessoas é que o
diretor Sasha Gervasi (roteirista do filme “O Terminal”) centrou o seu
trabalho, além de nos colocar dentro do clima do set de toda a concepção de um
dos maiores clássicos da filmografia do cineasta, “Psicose”.
O roteiro de John
McLaughlin (o mesmo de “Cisne Negro”) para “Hitchcock" é pontuado de diálogos
que gostaríamos de ter presenciado, entre Hitch e Janet Leigh (a sempre
desconcertante Scarlett Johansson), Anthony Perkins (James D´Arcy) e também com
o diretor de classificação de censura americana, Geoffrey Shurlock (Kurtwood
Smith) e também com o executivo da Paramount, Barney Balaban (Richard Portnow),
mas principalmente sobre a sua cara metade, Alma Reville (uma cada vez melhor
Helen Mirren) que teve sua vida (como muitas das mulheres de grandes nomes da
arte) um pouco eclipsada pelo culto ao gênio e também uma certa inveja que
Hitch tinha de outros diretores e das pessoas do meio artístico.
O filme mostra claramente
as obsessões do diretor, sua busca pela loira misteriosa, a persecução a uma
história diferente e inquietante. Na construção da narrativa, o diretor pontua
as ações de Hitch com algumas conversas imaginárias e sonhos com o próprio Ed
Gein (Michael Wincott), o autor do crime que inspirou o livro Psicose, que cai
nas mãos de Hitchcock após pesadas críticas da imprensa. Ele próprio havia
sofrido críticas pesadas, mesmo após o sucesso de “Intriga Internacional”, que
na época era o seu mais recente filme, abrindo aquele famoso buraco, aquela
crise do diretor em busca de algo que o inquietasse.
O drama psicológico está
bem estabelecido na coesão e dualidade entre a vida pessoal e profissional de
Hitch com a esposa Alma Reville, no vício da bebida, na compulsão por comida,
no empenho das suas próprias finanças para dar vida ao filme, já que os estúdios
duvidaram do potencial de “Psicose”. “Eles sempre querem que eu faça o mesmo
filme”, diz Hitch (Hopkins) em um determinado momento do filme a seu agente. A base para o
filme está no livro de Stephen Rebello: “Alfred Hitchcock and the Making of
Psycho”.
“Psicose” realmente sofreu
uma rejeição prévia, mas o gênio se destacava e insistia na história de Norman
Bates, o homem que desenterrou a mãe e virou um assassino serial. A principal reclamação prévia da Censura era
quanto à violência, nudez e insinuações sexuais. Numa das principais cenas do filme, Hitchcock
está furioso com a sua vida pessoal, por achar que Alma o está traindo com um
roteirista, Whitfield Cook (Danny Huston), e não está contente com os gritos de
Janet Leigh como Marion em “Psicose” na famosa cena do chuveiro. Assim, ele
mesmo empunha a faca e ela grita com o que parece ser um medo real. Foi
realmente um presente de Sasha Gervasi nos mostrar como poderiam ser os
bastidores deste filme que tanto preenche o nosso imaginário.
No elenco, temos outros
grandes atores, como Jessica Biel, que vive Vera Miles - outra das obsessões de
Hitch que passa para o segundo time das suas atrizes por ter ficado grávida
durante uma das suas produções –; Toni Collette, como a secretária de Hitch,
Peggy Robertson; Ralph Macchio, o karatê kid faz o papel do roteirista do
filme, Joseph Stefano; e Michael Stuhlbarg como o agente de Hitch. Um filme que
em certos momentos nos dá aquele clima da série para a tevê, Alfred Hitchcock
Presents, com Hitch aparecendo de terno preto no canto escuro da sua própria
casa e causando susto na própria mulher Alma, mas que nos brinda com a
possibilidade de imaginar como teriam sido os bastidores da vida de Hitch e das
filmagens do clássico “Psicose”, inclusive com o momento em que é gerada a
trilha para a cena do chuveiro, a montagem do filme e a impressão que a cena
causou no público da época.
HITCHCOCK
(HITCHCOCK/ EUA/ 2012/
DRAMA/ 99 MIN/ 12 ANOS)
Direção:SACHA GERVASI
Trilha sonora: DANNY
ELFMAN
Roteiro: JOHN J. MCLAUGHLIN
Elenco:
ANTHONY HOPKINS como
Alfred Hitchcock
HELEN MIRREN como
Alma Reville
SCARLETT JOHANSSON como
Janet Leigh
TONI COLLETTE como
Peggy Robertson
DANNY HUSTON como
Whitfield Cook
JESSICA BIEL como
Vera Miles
JAMES D'ARCY como
Anthony Perkins
MICHAEL STUHLBARG como
Lew Wasserman
RALPH MACCHIO como
Joseph Stefano
KURTWOOK SMITH como
Geoffrey Shurlock
MICHAEL WINCOTT como
Ed Gein
RICHARD PORTNOW como
Barney Balaban
WALLACE LANGHAM como Saul
Bass
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