terça-feira, março 12, 2013

Os Fab Four da ópera




Após o sucesso de Amor, de Michael Haneke, outro filme extremamente maduro nos traz a questão de como lidar com a idade madura. O Quarteto. O próprio diretor, por incrível que pareça estreante na régia, o ator Dustin Hoffman está com 75 anos e disse não querer perder a chance de estar por trás das câmeras. Na sua estreia, nos traz um filme sensível, musical e que discute esta relação com o que devem ser os últimos anos da vida, neste caso para músicos que decidem se retirar numa casa especializada para eles, a Beecham House, nos arredores de Londres.

Desde o início, o filme mostra a expectativa dos idosos da casa para um evento anual em benefício da continuidade do lar de músicos. Liderados por Cedric Livingston (Michael Gambon, o Dumbledore de Harry Potter), eles realizam extensas reuniões e ensaios, mas algo parece não estar dando certo. A temática será relativa à Giuseppe Verdi.


Neste último lar de músicos aposentados, as grandes estrelas são os cantores de ópera Cecily Robinson (Pauline Collins), Reginald Paget (Tom Courtenay) e Wilfred Bond (Billy Connolly), apelidados de Cissy, Reggie e Wilf, cada um com suas manias e traumas do passado. Eles protagonizaram a incrível performance e gravação do “Quarteto”, do Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Quando a estrela maior, a diva Jean Horton (Maggie Smith), um conflito se estabelece, pois ela teve um romance arrebatador e marcado pela infidelidade com Reggie e os organizadores do evento beneficente querem tentar reuni-los novamente, mas não é a vontade de todos. Será que os quatro fabulosos, Fab Four, utilizando uma metáfora bem inglesa e beatlemaníaca, voltarão a brilhar juntos?



O que o filme nos apresenta são as lembranças de músicos que tiveram grandes feitos e o impasse entre seguir em frente cantando e tocando ou simplesmente aceitar que a vida está mais próxima do fim do que do meio. O próprio diretor Dustin Hoffman disse que “se você chega a ter vivido três quartos de século, há algo ofensivo nisso do ponto de vista da sociedade. Acabou, essa é a atitude. Não tenho certeza de que a cultura tenha acompanhado os indivíduos que, no que me diz respeito, ainda estamos no nosso segundo ato”. Pois é exatamente esta noção de segundo ato, de grandeza na velhice, de que a vida segue e segue a pleno, como na cena em que Wilf flerta ou passa uma cantada na doutora Lucy Cogan, sabendo que não vai ter sucesso, mas mantendo a chama acesa. O filme é baseado na peça homônima de Ronald Hardwood, autor que a adaptou em roteiro para o filme.



O que mais emociona no filme é que a relação com a música está presente o tempo inteiro e Dustin criou um set bastante musical, pois com exceção do quarteto principal e de quatro ou cinco atores os músicos do lar são músicos profissionais com a idade em que são apresentados na casa e apresentam neste evento performances parecidas com as que o notabilizaram nos palcos. Entre árias de “Rigoletto”, de Verdi, como a famosíssima “La Donna e Mobile”, a “Brindisi”, de “La Traviata” e músicas de Schubert, Haydn, Puccini, na estonteante trilha de Dario Marianelli (“Anna Karenina”) e o cenário deslumbrante do casarão Hedsor House, em Taplow, já utilizado para filmes como “A Bússola de Ouro”, a emoção acaba tomando conta do público, pois fica impossível não se sensibilizar com árias de ópera, música clássica e a discussão às vezes séria, outras vezes bem-humorada sobre o que fazer com a idade madura ou com o segundo ato das nossas vidas, como bem definiu Dustin Hoffman.


Crédito de fotos: Diamond Films / Divulgação

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