Após o sucesso de Amor, de Michael Haneke, outro filme
extremamente maduro nos traz a questão de como lidar com a idade madura. O
Quarteto. O próprio diretor, por incrível que pareça estreante na régia, o ator
Dustin Hoffman está com 75 anos e disse não querer perder a chance de estar por
trás das câmeras. Na sua estreia, nos traz um filme sensível, musical e que
discute esta relação com o que devem ser os últimos anos da vida, neste caso
para músicos que decidem se retirar numa casa especializada para eles, a
Beecham House, nos arredores de Londres.
Desde o início, o filme mostra a expectativa dos idosos da
casa para um evento anual em benefício da continuidade do lar de músicos.
Liderados por Cedric Livingston (Michael Gambon, o Dumbledore de Harry Potter),
eles realizam extensas reuniões e ensaios, mas algo parece não estar dando
certo. A temática será relativa à Giuseppe Verdi.
Neste último lar de músicos aposentados, as grandes estrelas
são os cantores de ópera Cecily Robinson (Pauline Collins), Reginald Paget (Tom
Courtenay) e Wilfred Bond (Billy Connolly), apelidados de Cissy, Reggie e Wilf,
cada um com suas manias e traumas do passado. Eles protagonizaram a incrível
performance e gravação do “Quarteto”, do Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Quando a
estrela maior, a diva Jean Horton (Maggie Smith), um conflito se estabelece,
pois ela teve um romance arrebatador e marcado pela infidelidade com Reggie e
os organizadores do evento beneficente querem tentar reuni-los novamente, mas não
é a vontade de todos. Será que os quatro fabulosos, Fab Four, utilizando uma
metáfora bem inglesa e beatlemaníaca, voltarão a brilhar juntos?
O que o filme nos apresenta são as lembranças de músicos que
tiveram grandes feitos e o impasse entre seguir em frente cantando e tocando ou
simplesmente aceitar que a vida está mais próxima do fim do que do meio. O
próprio diretor Dustin Hoffman disse que “se você chega a ter vivido três
quartos de século, há algo ofensivo nisso do ponto de vista da sociedade. Acabou,
essa é a atitude. Não tenho certeza de que a cultura tenha acompanhado os
indivíduos que, no que me diz respeito, ainda estamos no nosso segundo ato”.
Pois é exatamente esta noção de segundo ato, de grandeza na velhice, de que a
vida segue e segue a pleno, como na cena em que Wilf flerta ou passa uma cantada na doutora
Lucy Cogan, sabendo que não vai ter sucesso, mas mantendo a chama acesa. O
filme é baseado na peça homônima de Ronald Hardwood, autor que a adaptou em
roteiro para o filme.
O que mais emociona no filme é que a relação com a música
está presente o tempo inteiro e Dustin criou um set bastante musical, pois com
exceção do quarteto principal e de quatro ou cinco atores os músicos do lar são
músicos profissionais com a idade em que são apresentados na casa e apresentam
neste evento performances parecidas com as que o notabilizaram nos palcos.
Entre árias de “Rigoletto”, de Verdi, como a famosíssima “La Donna e Mobile”, a
“Brindisi”, de “La Traviata ”
e músicas de Schubert, Haydn, Puccini, na estonteante trilha de Dario
Marianelli (“Anna Karenina”) e o cenário deslumbrante do casarão Hedsor House,
em Taplow, já utilizado para filmes como “A Bússola de Ouro”, a emoção acaba
tomando conta do público, pois fica impossível não se sensibilizar com árias de
ópera, música clássica e a discussão às vezes séria, outras vezes bem-humorada
sobre o que fazer com a idade madura ou com o segundo ato das nossas vidas,
como bem definiu Dustin Hoffman.
Crédito de fotos: Diamond Films / Divulgação
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