terça-feira, junho 04, 2013

Era uma vez no Cerrado


Protagonistas Fabrício Boliveira e Ísis Valverde

Crédito da foto: Europa Filmes

Um conjunto de referências que vai de Sérgio Leone a Shakespeare, mas nem isto é tão importante quanto elogiar o acerto do diretor René Sampaio em escolher uma versão parcial da letra de Faroeste Caboclo, música de Renato Russo, e não a sua íntegra, o que simplificou e deu mais humanidade a um dos melhores filmes brasileiros até então, destes considerados blockbusters. Optando pela narrativa de construção progressiva do personagem desde uma situação de vingança da morte do pai (Flavio Bauraqui) e João (uma grande atuação de Fabrício Boliveira) em Santo Cristo e a vida no presídio até a chance de ir a Brasília visitar o primo Pablo (o sempre bem Cesar Troncoso, de "O Banheiro do Papa"), o filme chegou próximo dos 600 mil espectadores na sua primeira semana em cartaz. Apostando no amor proibido entre Maria Lucia (a cada vez mais convincente e sensual Ísis Valverde) e João (olha o Romeu e Julieta aí), no antagonismo entre os personagens, na abordagem da rebeldia sem causa, das drogas e da vida um pouco sem sentido da juventude de Brasília nos anos 80, além da estratificação social, o filme tem mais acertos do que erros, contando ainda com um elenco bem escolhido com nomes como Antonio Calloni, Flavio Bauraqui e Marcos Paulo, no seu último trabalho para o cinema antes da morte no final de  2012.

O filme conta a saga de João de Santo Cristo desde sua infância no interior da Bahia até sua ascenção quando vai tentar a sorte em Brasília. Ajudado pelo primo Pablo, um peruano, que vende drogas da Bolívia, João vai trabalhar numa carpintaria, mas se envolve com o tráfico de drogas. Um dia, fugindo da polícia, conhece Maria Lúcia, filha de um senador (Marcos Paulo), que estuda arquitetura e vive uma vida meio deslocada em seu meio. A paixão entre os dois é arrebatadora, mas o amor entre eles é impossível (ele negro e pobre, ela branca e filha de senador). Para ascender, João volta a vender drogas e incomoda Jeremias (Felipe Abib), que também deseja Maria Lúcia e é protegido por um policial (o grande Antonio Calloni). Por centrar no amor, na violência e na vingança, Sampaio acaba deixando a parte mais crítica e política da música de lado - "e ouvia as sete horas o noticiário que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar" - aparecendo em alguns flashes pela manifestação da imprensa de jornais e telejornais.

Destaque especial para a bela trilha de Philippe Seabra - guitarrista e vocalista da extinta banda, Plebe Rude, que insere uma música da sua banda Até Quando Esperar e gravou com a banda a música do Legião, Tédio (Com um T bem Grande pra Você), numa cena do filme onde estaria tocando a Aborto Elétrico, banda pré-Legião, formada por Renato Russo, Fê e Flávio Lemos, que depois formaram a Capital Inicial (abordada em Somos Tão Jovens). O acerto de Sampaio foi não usar a música Faroeste Caboclo durante o filme e sim nos créditos finais, após a trágica morte triangular digna de um filme de Sérgio Leone, como Era uma Vez no Oeste.

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