sexta-feira, julho 27, 2007

Cortázar e Cla Wolff

A quinta-feira de Festival de Inverno de Porto Alegre foi de amizade e intimidade. Depois da aula teórica sobre ressentimento a partir da filosofi de Nietzsche do professor Oswaldo Giacoia, tive à tarde e à noite contatos com a atitude política de Cortazar, na quarta aula do mestre portenho Martin Paz. Dentre tantos aspectos abordados, Paz tratou de dar um contexto histórico-político da Argentina do século 20, dos momentos antes do peronismo e posteriores e do envolvimento de Cortazar com as revoluções desde que visitou Cuba em 1960. O conto Reunión, do livro Todos os Fuegos o Fuego é imputado por Paz talvez como um dos primeiro escritos ficcionais políticos de esquerda de Cortázar, pois trata do objetivo do desembarque de revolucionários em Sierra Maestra, onde estão presente a figura biográfica de Che Guevara e um homem chamado apenas pelo codinome Luis, mas que era Fidel Castro.
O professor também lembra que os escritores de esquerda foram muitas vezes condescentes com as atrocidades do governo cubano e traçaram Fidel como uma espécie de mito, que tinha habilidades em medicina, agricultura, economia e era capaz de lembrar de uma boa conversa e continuá-la dez anos depois de iniciá-la. Cortázar teve um envolvimento fortíssimo com a causa da revolução na Nicarágua, escrevendo Nicarágua tão Violentamente Doce e também o conto Apocalipse em Solentiname, onde o poeta Ernesto Cardenal vira um personagem.
À noite fui na abertura da exposição Olhares Revelados, da artista plástica e mais do que tudo minha amiga e muitas vezes parceira intelectual Clarice Wolffenbüttel Lemes. As obras são de uma composição bem construída, com uma razão pictórica bem definida, domínio das cores e intenções que trabalha os olhares enviesados, com a constituição física arredondada de um Botero ou de um Rafael.

Cla Wolff, como me permito chamar, é uma usina de idéias, que partem da sua ansiedade, de uma loucura que ela diz ter e que todos nós temos, que é o sopro da criação. Constrói poesias sempre. Divaga outras tantas vezes. Relembra fatos da história, sua formação primeva, com maestria. Lembrei de Cla Wolff e de Cortázar, pois foi ela que me deu a minha primeira obra em espanhol do escritor portenho, mas nascido em Bruxelas. É a edição de Historias de cronopios y de famas, que ela ganhou numa das suas viagens, a mais longa a São Francisco, que depois ganhou a Europa, onde vivências e formação artística em Amsterdam, na Holanda, deram para ela um sopro artístico a mais.

Mais um dia inesquecível.

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