sexta-feira, julho 27, 2007

Um fim


Hoje pela manhã, chegou ao fim o seminário Cinco Lições sobre Nietzsche, ministrado pelo professor doutor da Unicamp/SP, Oswaldo Giacoia Jr, para o Festival de Inverno de Porto Alegre. Na aula final, no Teatro de Câmara, o assunto foi a relação da filosofia com a vida. Antes de tratar deste tema, Giacoia leu o aforismo 6 do capitulo Por que sou tão sábio, do livro Ecce Hommo. A síntese das considerações nietzscheanas é de que o ressentimento é doença e que a proposta de Nietzsche para o ser humano ser capaz de renunciar a vingança - principalmente contra o tempo, o foi, o passado - é o eterno retorno, a teoria do tempo circular, poder desejar novamente aquilo que foi.
No tema Filosofia e Vida, o mestre paulista traz à baila uma questão fundamental abordada por Michel Foucault que é o que estamos fazendo de nossas vidas ou o que estamos fazendo de nós mesmos. Nietzsche propõe que relação entre filosofia e vida não pode ser contemplativa, como sugeriam Platão, Kant e Schopenhauer. Esta relação deve brotar das entranhas. Com isso, questiona o imperativo ético kantiano e todas as éticas ocidentais até então, que é a busca de uma vida virtuosa, do ideal de felicidade. O objeto ético então é a felicidade. Em Assim Falava Zaratustra, Nietzsche diz com clareza que os homens modernos inventaram a felicidade. Só que o ideal da felicidade inventada é marcada pelo conforto, pelo bem-estar, pela segurança e pela ausência de dor e sofrimento, isto é, uma ilusão e uma apologia ao consumo infinito, aos templos da contemporaneidade, os shopping center 24 horas. Nietzsche novamente propõe em Crepúsculo dos Ídolos a arte como tragédia, como transfiguração estética, a arte pela arte ou por meio das festas dionisíacas, as bacanais, garantir a eternidade pela ação da sexualidade, pela dor do parto, pelo futuro da vida. Chegamos à conclusão de Nietzsche leva a filosofia e a metafísica ao seu esgotamento, apesar de - mesmo com seu contraponto e investigação profunda - às vezes dar suporte para o pensamento platônico, kantiano e schopenhauriano. É o preço que se paga pela profundidade de sua metafísica.
A aula acabou e ficamos todos órfãos da condução magna e precisa do professor Giacoia, que nos prometeu um "eterno retorno" para novas palestras e cursos.

Nenhum comentário: