domingo, maio 02, 2010

Entrevista com Eugenio Barba


Coloco aqui no blog a entrevista com o fundador do Odin Teatret, o diretor Eugenio Barba, publicada no site do Correio do Povo agora há pouco.

"Porto Alegre poderia virar pólo de teatro", diz Eugenio Barba

Diretor do Odin Teatret é a principal atração do Palco Giratório Sesc

Porto Alegre poderia virar pólo de teatro, diz Eugenio Barba
Crédito: Luiz Gonzaga Lopes/Especial CP
A programação do 5º Festival Palco Giratório Sesc/Porto Alegre trouxe à Capital neste final de semana o italiano radicado na Dinamarca, Eugenio Barba, 73 anos, uma das principais referências vivas da antropologia teatral. Barba foi também fundador da companhia Odin Teatret, em 1964.

Ele protagonizou uma conferência com três horas de duração, diante de um Teatro do Sesc lotado, sábado à noite, abrindo o 5º Palco Giratório. Barba abordou diversos assuntos, entre eles suas ligações com o Brasil e Porto Alegre, com o falecido Luiz Otávio Burnier, fundador do grupo Lume, de Campinas, e Irion Nolasco, no Rio Grande do Sul.
A conferência também abordou o legado do Odin Teatret, o método de trabalho do grupo situado em Holstebro, na Dinamarca, e até uma demonstração de trabalho de Julia Varley, sob a direção de Barba.

O festival segue até 31 de maio, em Porto Alegre, com 38 espetáculos de 35 grupos de 11 estados brasileiros, além de participação da França. A atividade é promovida pelo Arte Sesc – Cultura por toda parte. Mais no site www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio. Acompanhe a seguir uma entrevista feita com Eugenio Barba:

Correio do Povo - Existe alguma pesquisa nova em antropolgia teatral?
Eugenio Barba - A antropologia teatral é como uma referência que hoje não pode ser considerada uma pesquisa. É um estudo comparativo, compreendendo direfentes estilos e gêneros estéticos. Hoje, existem os mesmos princípios para a técnica de todos os atores. O nosso trabalho teve influência na presença física, material do ator. Trata do equilíbrio, tensão, de uma maneira paradoxal de pensar. Como Hamlet. Ele pensa e pensa que o outro ator faz isso.

Não temos mais que pesquisar. Este foi nosso território durante 20 anos. Estudos comparativos. Só o que utilizamos não é pesquisa estética, mas tinha a ver com resultados artísticos, mas tudo que se percebe no sentido pré-expressivo, não no sentido cronológico. É uma maneira de pensar, transformando a presença do ator em expressão artística. Existem pesquisas novas na Europa sobre antropologia do espetáculo, compreendendo tipos diferentes de espetacularidade, que interessa sobretudo aos acadêmicos.

CP - Qual a sua visão do teatro de grupo em Porto Alegre?
Barba - Todos os meus amigos brasileiros sempre me disseram que Porto Alegre era muito ativa em nível de grupos. Agora chegando aqui e vendo o interesse dos grupos pela experiência fora do comum do Odin, constatei que existe um ambiente muito particular para o teatro de grupo, talvez resultado do trabalho de grupos dos anos 80 e 90, que criaram uma história. Os professores universitários também têm responsabilidade por este interessen crescente entre os jovens.

Me pergunto por que Porto Alegre não pode virar um pólo de teatro de grupo? Romper o isolamento, a maneira de pensar. Há uma possibilidade de abrir ou dar meios para desenvolver a partir do que já existe com todas as novas formas. Os grupos já têm história, identidade e possibilidade de incrementar e fortalecer o seu trabalho. Precisa de uma contínua confrontação.

CP - A realização de um grande festival de teatro de grupo seria um dos caminhos?
Barba - Sim, porque não existe no mundo todo um festival internacional que abranja só teatros de grupo. No Brasil, tem uma experiência próxima da ideal que é o Festival de Teatro de Grupo Latino-Americano, do Teatro Oco, de Salvador. Antes existia nos anos 70 o festival de Santarcangelo Di Romagna, na Itália, idealizado pelo diretor Roberto Bacci, que tinha uma energia extraordinária. Durante muitos anos, foi o festival que tinha realmente a marca do teatro de grupo.

CP - Como é Eugenio Barba quando não está pensando o teatro?
Barba - Quando não estou trabalhando, eu sou reservado. Não frequento pessoas, casas. Vivo solitário com minha família. Tenho muito pouco contato social, até porque vivo isolado em Holstebro. O que me acompanha sempre são os livros, a leitura.

CP - O que o senhor trouxe para ler no Brasil?
Barba - Estou lendo uma biografia do pintor Paul Cézanne. Gosto muito de ler biografias. Para me acostumar de novo com o português, também estou lendo um livro de um jornalista brasileiro, Paulo Markun, "Cabeza de Vaca".

CP - O Brasil está presente de alguma forma no novo espetáculo do Odin?
Barba - Sim, no novo espetáculo o título "A Vida Crônica", vem de um poema do brasileiro Paulo Leminski. É a história de uma jovem colombiana que chega em uma cidade europeia à procura do pai desaparecido. Ele era um criminoso, torturador, narco-comerciante, um pobre imigrante que tentou a vida na Europa e desapareceu, uma coisa muito comum na Europa. Este é o ponto de saída da história, com todos os choques entre uma jovem latino-americana e o mundo europeu com seus preconceitos.

Fonte: Luiz Gonzaga Lopes/Correio do Povo

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