sábado, fevereiro 11, 2012

Dama de Ferro, filme de bronze

Uma das melhores atrizes em atividade no cinema mundial interpretando uma das personagens mais ricas e controversas da política internacional, isto é, Meryl Streep vivendo Margaret Thatcher no cinema. Certeza de um grande filme, não é mesmo? Não mesmo. O que temos na obra dirigida por Phillida Lloyd, A Dama de Ferro, é uma grande personagem vivida por uma excelente atriz, com infinitos recursos cênicos, mas o filme passa longe de ser grande. A narrativa adota um esquema burocrático e com aqueles flashbacks que truncam a narrativa, procedimento que Clint Eastwood já tinha adotado em J. Edgar sobre o poderoso líder e fundador do FBI, J. Edgar Hoover. Naquele filme também o que empolga é a brilhante atuação de Leonardo DiCaprio, mas a trama não decola.



Mas vamos ao filme. A diretora situa Margaret Thatcher já nos anos 2000 apresentando sinais de demência e vigiada para não sair de casa sozinha. A primeira cena mostra uma senhora idosa na fila de um pequeno mercado, contando as moedas para comprar a leite. Esta senhora que caminha por dificuldade pelas ruas de Londres foi a primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica entre 1979 e 1990, ganhando o apelido de dama de ferro por ter um estilo firme, agressivo e por vezes cruel no exercício do mandato.

O plot de Phyllida Lloyd, a partir do roteiro de Abi Morgan, é a tentativa de desligamento do marido Denis (o sempre eficiente Jim Broadbent), morto recentemente. A simbologia do luto está ligada ao fato de ela tentar se desfazer das suas roupas e sapatos. Os sintomas da demência estão associados ao fato de que Margaret ainda conversa com Denis, que sempre aparece alegre para ela, e repete frases que disse em vida para ela “ser firme” e não se intimidar com os homens.

Nas conversas imaginárias com Denis, o seu passado aparece desde o tempo em que assistia aos comícios de seu pai, prefeito na pequena Grantham, até o momento em que vai para Oxford e se candidata ao Parlamento pelo Partido Conservador. Em alguns momentos, a diretora assume a porção feminista do filme, pois Maggie Thatcher precisa enfrentar a zombaria dos homens, como na cena em que ela debate pela primeira vez no Parlamento inglês.    

O viés político de Thatcher aparece bem pouco, ou menos do que deveria. Os grandes momentos são a guerra das Malvinas e também as políticas de austeridade, com cortes nos gastos públicos, medida bastante impopular nos anos 80.  A diretora Phillida Lloyd já tinha dito em entrevista que evitou um posicionamento político, mas seria impossível fazer um filme como “Pollock” sem exaltar a obra de Jackson Pollock no nascituro da Action Painting, apesar de o filme de 2000 com direção e atuação de Ed Harris também ter desperdiçado muita tinta ao tentar abordar a carreira de Pollock 


Mas Meryl Streep é o que faz a roda girar. Com uma maquiagem mais regular e eficiente (assinada por Mark Coulier, indicado ao Oscar), ao contrário de J. Edgar, de Eastwood, que inclui um envelhecimento perfeito e o capricho no laquê do famoso penteado e uma prótese dentária, que auxilia no acento britânico perfeito e na impostação similar a voz da Thatcher real, Streep tem todas as credenciais para receber o seu terceiro Oscar, numa disputa acirrada que terá com Viola Davis, de Histórias Cruzadas, pela estatueta. Streep faz a Dama de Ferro virar realidade para os mortais não-ingleses, que conviveram pouco com a emblemática figura, mas o filme derrapa neste imbróglio narrativo com flash backs truncados e com pouca alma lírica e a resolução do filme (não posso contar por aqui) deixa a desejar, trabalhando demais no plano íntimo e  pouco no plano público, apesar de expor de forma apenas rasa o que a perda de poder faz com uma pessoa.

Filme mediano para a grandeza da personagem histórica.

Crédito: Paris Filmes / Divulgação 




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