segunda-feira, agosto 13, 2012

Nas curvas da estrada da vida


Uma frase no para-choque traseiro de um caminhão serve para ilustrar o quão dramática pode ser a vida dos personagens de “À Beira do Caminho”, filme dirigido por Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco”), inspirado em temas de músicas do rei Roberto Carlos. A frase é: “Espere pelo melhor, prepare-se para o pior, aceite o que vier”. Silveira é um confesso cineasta do emocional, de conduzir o público ao drama, ao difícil enredar dos laços afetivos. 

Nesse filme, em que o argumento de Lea Penteado é todo costurado com músicas de Roberto Carlos, o silêncio e a emoção são os primeiros a aflorar, apesar da dureza apresentada no paradoxo do personagem principal, o caminhoneiro João (o sempre excelente João Miguel), que tem um drama pessoal. Ele sente-se culpado por um acidente que mudou o rumo de sua vida e, ao mesmo tempo, a torna amarga e sem laços afetivos, vendo na perspectiva solitária da estrada a sua fuga perfeita. João deixa para trás sua família, sua cidade, sua história. O silêncio é quebrado pelo som de um único CD com canções de Roberto Carlos, que chamuscam lapsos de suas lembranças.



A virada da história é quando João depara com um caroneiro, o menino Duda (Vinicius Nascimento), determinado a encontrar o pai, pois a mãe morreu, mas que acaba ajudando João a se confrontar com o passado. Duda acredita, enquanto João é a imagem da desesperança. O contato com o menino faz João amolecer o coração e se reencontrar com pessoas do passado, como a ex-namorada Rosa (Dira Paes). João decide ajudar o seu novo amigo a encontrar o pai (Angelo Antonio), que está em São Paulo, para onde ele deve levar um carregamento de melões.

O primor da trilha com músicas de Roberto Carlos — como “A Distância”, que inicia o filme, e “O Portão”, quando ele está voltando para a casa da mãe (Denise Weinberg), onde perdeu Helena (Ludmila Rosa) e deixou uma filha —, concatenada com a fotografia das longas estradas do Nordeste e Sudeste brasileiros, na qual o caminhão, o poente e o silêncio dialogam, compõem a dose exata a preparar o espectador para a emoção vindoura. Méritos mil ao roteiro redondo de Patrícia Andrade, à trilha de Berna Ceppas e à fotografia de Lula Carvalho. 

(Texto publicado originalmente no jornal Correio do Povo)

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