quinta-feira, junho 20, 2013

Rodrigo Rosp é um fingidor em novo livro



Criado inicialmente para ser um livro de contos, mas que ultrapassa as fronteiras deste gênero, para ser uma espécie de comédia em cenas, uma peça teatral. Este é o livro "Fingidores (comédia em nove cenas"), de Rodrigo Rosp, da Não Editora, que terá lançamento nesta quinta, às 19h, no Cult Bar (Comendador Caminha, 348), no bairro Moinhos de Vento.

Nos contos escritos em estilo de peça teatral, ou seja, nas nove cenas, conduzidas pelo mesmo personagem, Caio é um sujeito neurótico e sabotado por suas inseguranças, que usa da ironia, do cinismo e do humor diante da morte iminente, de um amor por uma mulher mais jovem, no consultório do dentista e até diante do outro lado da vida.  Rosp nasceu em 3 de dezembro de 1975, é pós-graduado em Estudos Linguísticos do Texto na Ufrgs e cursa mestrado em Escrita Criativa na PUCRS. Na orelha, o escritor
Reginaldo Pujol Filho desvenda os “fingimentos” da obra: “o livro se finge de contos, mas a gente abre as primeiras páginas e vê ele disfarçado de teatro. E talvez aí esteja a chave: Fingidores é um texto-ator".

Em entrevista para o Correio do Povo, reproduzida na íntegra aqui no blog textostelona, o autor fala sobre a criação do livro, o personagem principal, os coadjuvantes e sobre a busca da qualidade no texto literário:

Textostelona - Como foi a concepção de 'Fingidores'?
Rodrigo Rosp - Eu criei um conto em 2010 com este personagem, o Caio. Depois, foi escrever outro conto e lá estava um personagem muito parecido. Decidi inicialmente escrever um livro de contos, mas quando eu cursei a disciplina de Teorias do Drama, com Antônio Hohlfeldt, comecei a ver as rubricas brincalhonas de Nelson Rodrigues e decidi fazer a mudança, com marcações que são encenáveis, no estilo de cenas de uma peça teatral.

Textostelona - O personagem Caio tem uma força e uma insegurança próprias de um homem culto que se depara com a meia idade. Explique-nos a criação de Caio.
Rosp - O Caio é um personagem neurótico, irônico, niilista, cético, cínico. Ele tem uma influência forte dos universos de Nelson Rodrigues e Woody Allen. Quando comecei a escrever, o personagem foi se desenvolvendo sozinho. Quanto aos coadjuvantes, alguns acabam aparecendo de um conto (cena) para outro, como a Tati e o Orteman, mas não entrei na paranoia de repeti-los para amarrar as histórias.



Textostelona - Das coisas criativas do livro, a capa e as fotos dos intervalos entre capítulos talvez sejam os mais originais. Como foi a sacada de pessoas assistindo a cenas e suas reações?
Rosp - Isto foi um trabalho em conjunto com o Samir Machado de Machado (capa) e o Guilherme Smee (projeto gráfico). A gente partiu da imagem da servidão voluntária da Escola de Frankfurt e decidimos produzir as fotos. Convidei escritores e disse que ia ser uma foto histórica. Trinta e oito aderiram e fizemos as fotos no GNC Moinhos, com os escritores assistindo e tendo diversas reações. Assim conseguimos brincar com as fotos e interagir com cada uma das cenas.


Textostelona - Um dos personagens coadjuvantes, o Mércio Carrão, é um escritor de sucesso. Qual a tua opinião sobre a busca do sucesso na literatura?
Rosp - Tem uma coisa que eu sempre defendi na Não Editora que é a busca da qualidade do nosso texto, que possa ter várias camadas de leitura, mas sempre tentamos vender este texto de qualidade. Na editora, não temos a visão de que o cara que ama a literatura tem que estar na sarjeta, à margem. Eu defendo que se possa ter mais qualidade nos produtos culturais. No cinema, Quentin Tarantino e Woody Allen conseguem ter qualidade e ser comerciais. Também tem o outro lado daqueles que não se dedicam, gente que tenta ser o Mércio, o escritor de sucesso, mas não consegue.

Crédito da foto: Mari Lopes

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